Só quero que Lula cumpra o que me prometeu, diz CEO da Transnordestina

Um dos maiores projetos de infraestrutura do país, a ferrovia Transnordestina, que liga Eliseu Martins (PI) ao porto de Pecém (CE), foi mantida sob o comando do grupo CSN, de Benjamin Steinbruch, e agora enfrenta dificuldades para obter o financiamento necessário para a última etapa. Se tudo der certo, a via estará totalmente trafegável até 2027, com dez anos de atraso.

O presidente Lula disse publicamente que não faltaria dinheiro para a ferrovia. Por que o projeto emperrou novamente?

É preciso um decreto autorizando uma operação de R$ 3,6 bilhões com o FDNE [Fundo de Desenvolvimento do Nordeste]. Sem isso, a obra fica parada.

De quem é a culpa?

Isso [o decreto] estava parado no Ministério da Fazenda durante sete meses. Não tem cabimento o presidente da República prometer a liberação da obra e, por causa da burocracia, ela ficar parada. Lula pegou no meu braço [em visita à obra] e falou: ‘não faltarão recursos para a Transnordestina’. Eu só quero que se cumpra o que Lula me prometeu.

Que tipo de operação pendente é essa?

É um empréstimo para a Transnordestina que tem como avalista o grupo CSN. Se não pagar, dá vencimento da dívida lá na CSN.

A obra avançou muito. Foi com dinheiro de Steinbruch?

Ele já colocou R$ 4,2 bilhões, saídos do caixa da companhia, fora empréstimos. A CSN se comprometeu a colocar mais R$ 1,5 bilhão.

Mas Steinbruch deve ter renegociado dívidas para injetar dinheiro novo, não?

Ele alongou a dívida [o equivalente a R$ 1,5 bilhão] por cinco anos para finalizar a obra.

Nos projetos ferroviários de grande porte, como a Norte-Sul, o governo construiu a obra para que fosse licitada depois. Nesse projeto é o contrário. Mesmo assim, o governo terá alguma participação?

Metade desses R$ 3,6 bilhões a serem tomados com o FDNE é conversível em ações pelo governo.

A ferrovia foi modificada e um trecho foi cortado do projeto original no governo Jair Bolsonaro. No entanto, muitos investimentos já tinham sido feitos. Quanto devem receber de indenização por isso?

Cerca de R$ 4 bilhões, o equivalente a R$ 25 milhões por quilômetro já construído [em direção ao porto de Suape]. São cerca de 190 km ao todo. Mas há outras obras, até um túnel. Os valores ainda estão em discussão.

Julio Wiziack/Folhapress

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