Supremo Tribunal Federal
Em seu último discurso antes de se entregar à Justiça, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve neste sábado, 7, a linha de enfrentamento ao Judiciário e à imprensa adotada desde que se tornou alvo da Operação Lava Jato. Ao admitir que cumpriria a ordem de prisão, reafirmou que, apesar disso, continua na disputa eleitoral e que vai sair da situação “mais forte, mais verdadeiro e mais inocente”. O Judiciário foi o principal alvo do ex-presidente.
Lula disse que foi julgado com base na opinião pública e não em provas concretas e, sem citar nomes, fez referência ao voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, defensor da tese de que a Corte tem o papel “representativo” de julgar de acordo com as demandas da sociedade.
“Você não pode fazer julgamento subordinado à imprensa porque no fundo, no fundo, você destrói as pessoas na sociedade, na imagem das pessoas, e depois o juiz fala: ‘Eu não posso ir contra a opinião pública porque a opinião pública está pedindo para cassar’”, disse, para completar: “Quem quiser votar com base na opinião pública largue a toga e vai ser candidato a deputado.
Escolha um partido político e vai ser candidato. Ora, a toga é um emprego vitalício. O cidadão tem de votar apenas com base nos autos do processo. Alias, eu acho que ministro da Suprema Corte não deveria dar declaração de como vai votar. Nos EUA, termina votação você não sabe o que o cidadão votou exatamente para que não seja vítima de pressão”.
O petista também atacou o Ministério Público Federal e “seus asseclas” e voltou a defender a regulação dos meios de comunicação. “O sonho de consumo deles é a foto do Lula preso”, afirmou, confiante de que será absolvido pela história “daqui uns dias”. Lula falou depois de uma cerimônia religiosa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, que completaria 68 anos neste sábado.
Um carro de som estacionado em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, foi transformado em altar onde políticos, artistas e religiosos se solidarizavam com o ex-presidente. A presidente cassada Dilma Rousseff leu a “Oração de São Francisco”, e o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gilberto Carvalho homenageou Marisa com um texto do escritor Frei Betto.
O bispo emérito de Blumenau, d. Angélico Sândalo Bernardino, amigo pessoal do ex-presidente e ex-integrante da Pastoral Operária, fez a celebração da qual também participaram pastores evangélicos e luterano. A trilha sonora, escolhida por Lula, foi interpretada por um coral de artistas que cantaram músicas como “Maria Maria” (Milton Nascimento e Fernando Brandt).
O rito foi interrompido várias vezes pelos gritos de “não se entrega”, dos lulistas. Lula estava no sindicato desde quinta-feira, usado para se reunir com familiares, aliados, para se alimentar e descansar. Por volta das 22h ainda desta sexta-feira, quando deixava o segundo andar do prédio, foi abordado por cinco pessoas que pediram selfies.
Com o olhar cansado, passos lentos e a mesma roupa com que havia chegado ao sindicato, Lula atendeu aos pedidos de fotos. Foi a segunda vez, em um período de quatro horas, que ele deixava a sala em que estava. No discurso, Lula deixou claro que continua candidato e que vai sair mais forte da cadeia.
“Vocês vão perceber que sairei dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e mais inocente porque quero provar que eles cometeram um crime”. O ex-presidente voltou a utilizar uma figura que tem utilizado desde que a prisão se tornou uma possibilidade concreta, a de que não adianta prendê-lo, pois sua mensagem será carregada por apoiadores enquanto estiver na cadeia. “Eu não sou mais um ser humano. Sou uma ideia”.
Estadão Conteúdo
|
Comentários