Estudiosos apontam 'ideologia' como razão de Lula continuar à frente em intenções de voto

Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
Mesmo condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro (leia aqui), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva permanece à frente na corrida eleitoral com 37% das intenções de voto na pesquisa do Datafolha divulgada nesta quarta-feira (31). 

Apesar do questionamento sobre a integridade da pesquisa, o cientista político e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Claudio Souza não se surpreendeu com o resultado. "A porcentagem do eleitorado que vota em Lula é mais ideológico. 
É uma parcela que apoia o PT, que votou em Dilma [Rousseff] e que acredita que há um processo injusto no julgamento do ex-presidente", disse. 

Para ele, esse eleitorado se convenceu que há problemas nas provas desde o impeachment de Dilma. "A Lava Jato se acostumou com uma espetacularização: mostraram malas, a prisão de Geddel [Vieira Lima], divulgaram os áudios de [Michel] Temer na delação da JBS e várias provas explícitas. 

Contra Lula não há nada a não ser uma visita e a ideia de que ele quase recebeu um apartamento reformado", explicou. Desta forma, para maior parte dos eleitores de Lula se apoia no pilar da injustiça no julgamento. A professora do curso de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Victória Espiñeira, acredita que a liderança de Lula na pesquisa é espelho do resultado dos governos dele e do contexto político em que nos encontramos.

"Até o final da gestão ele teve um percentual altíssimo de aprovação, isso ficou na memória das pessoas. Ele é uma figura forte em toda América Latina, tem um discurso que atinge camadas mais baixas da população", pontuou. Segundo ela, a discussão sobre o impeachment também deixou de certa forma um vazio no imaginário das pessoas que eram contra a medida. "Essa parcela do eleitorado ficou a espera que a mobilização gerasse algum tipo de resultado", comentou.

Apesar de estar à frente nas intenções de voto, Lula também aparece com 40% de rejeição. Souza pontua que ao contrário do que possa se pensar o que houve foi uma queda na rejeição considerando outras pesquisas da Datafolha. "É incrível como a liderança pessoal e política do ex-presidente tem sido colocada de modo favorável a uma ideia de que, para parte de seu eleitorado, ele está sendo perseguido", afirmou.

Mesmo se o teto de rejeição se mantiver em 40%, é possível que a aversão diminua por conta dos eleitores que rejeitam Lula parcialmente. "Embora a imagem do ex-presidente tenha sido afetada nos últimos anos pela questão da corrupção, o que paira é que o sistema político brasileiro tem sofrido com o mesmo problema", explicou.

Por conta disso, ele acredita que em 2018 será difícil para qualquer partido relevante construir o marketing eleitoral de sigla honesta e "de que o grande mal é o PT". Ao mesmo tempo em que o PT divulgou a pesquisa citando o ex-presidente como "inabalável", a professora da UFBA notou o crescimento recente de uma resistência a Lula que se diferencia de um antipetismo que estava em voga. "Podemos ver inclusive que o governador Rui Costa, por exemplo, continua crescendo sem receber essa 'munição' ou resistência forte que Lula está recebendo", disse. 

O cientista político da Unilab discorda. "Eu diria que temos mais um antipetismo do que um antilulismo, mas eles são complementares e acabam por ser duas faces da mesma moeda. Há a visão de que a construção da imagem de Lula é muito ligada a imagem do PT", disse. 

Segundo Souza, movimentos como o Brasil Livre (MBL) escolheram durante o impeachment, por exemplo, não bradar apenas Fora Dilma. "Eles optaram também por gritar fora PT para dar uma dimensão mais ampla de combate a um projeto político que eles abominam, que envolve não só Lula, mas também os movimentos sociais, por exemplo", explicou. 
(Informações: Bahia noticias)

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