DONA YVONNE : UMA VIDA MARCADA POR ATOS DE BONDADE--José Américo Castro.

Yvonne Góes Souza Reis é uma respeitável senhora de 91 anos de idade que reside em Ipiaú há mais de seis décadas e tem sua vida marcada por atos de bondade.
Solidariedade, beneficência são ações constante na sua existência. Além disso , ela disso ela mantém o grandioso exercício da cidadania.
Esta cidade muito lhe deve e precisa conhecer melhor a sua historia.
Dona Yvonne esteve na retaguarda da Força Expedicionária Brasileira (FEB), costurando roupas para os soldados sobreviventes de um naufrágio em Ilhéus durante a Segunda Guerra Mundial, auxiliou o ex prefeito Euclides Neto a organizar um município que se tornaria “Modelo da Bahia”, deu grande contribuição na construção da atual Igreja Matriz e foi fundadora da Casa da Menor.
Viúva do advogado Talma Reis, mãe de três filhos, avó, bisavó, com uma memória privilegiada, dona Yvonne abriu o leque das suas recordações para que obtivéssemos as informações utilizadas nesta narrativa.
Ela nasceu no dia 3 de outubro de 1926, na localidade de Volta do Rio, em Areia, atual Ubaira, no Vale do Jiquiriçá. Seus pais se chamavam Osório Araujo Souza e Ester Góes.
O casal teve outros quatro filhos.

Yvonne tinha apenas dois anos de idade quando a família mudou-se para o sertão. A viagem até Jequié foi a cavalo e durou três dias. Durante todo o percurso ela esteve acomodada em um panacum.
REVOLUÇÃO E GUERRA
Em Jequié seu Osório montou uma loja de calçados, confecções e produtos importados. Nesse tempo estourou a Revolução de 1930, movimento armado que culminou com o golpe de Estado que conduziu Getúlio Vargas à Presidência da Republica.

A menina Yvonne presenciou cenas que ficaram marcadas para sempre em sua mente. Gente armada, carnificinas, exaltações aos revolucionários...
De Jequié a família seguiu pra Salvador onde seu Osório deu continuidade à sua atividade empresarial, com um estabelecimento de artigos holandeses na Praça Thomé de Souza .
Residindo na Rua da Poeira, próximo ao Campo da Pólvora, Yvonne fez muitas amizades e peraltices. Subia em arvores, jogava bola, aproveitou a infância com intensidade.
Quando era adolescente tornou-se ativista das causas humanistas. Visitava orfanatos, asilos de idosos, manicômios, levando alimentos, remédios e palavras de conforto aos que se encontravam confinados naqueles lugares.
Durante a Segunda Guerra Mundial, conflito militar que durou de 1939 a 1945, Yvonne mostrou seu patriotismo . Engajou-se no movimento das Bandeirantes, versão feminina dos escoteiros, e começou a costurar roupas que eram enviadas aos sobreviventes do navio Jacira, torpedeado , no dia 19 de agosto de 1942, por um submarino alemão U-507, no norte de Ilhéus.
Com a morte de sua mãe, Ester Góes, no ano de 1943, Yvonne assumiu a missão de cuidar dos afazeres domésticos da família e criar os irmãos mais novos.
DO TEATRO AO CASAMENTO
Dona Yvonne conheceu região de Ipiaú conheceu através da sua irmã Valdete que residia em “Tesouras” (atual Ibirataia) e lhe convidava para passar férias no lugar.

Tornou-se amiga das famílias de José Hagge, Manoel Pereira, José Thiara, Osias Fahir e Caju, dentre outras.
A juventude de Tesouras era chegada às artes e logo Yvonne se viu atriz, participou de um grupo de teatro local que se apresentava em cidades e povoados da região.
No palco do Cine Teatro Éden ela participou da encenação da comédia Maria Caxuxa.
Quando a troupe chegava a Ipiaú ficava hospedada na Fazenda Conceição , de dona Zezé (Maria José Lessa). O grupo também organizava festejos que movimentavam a pacata Tesouras.
Os eventos prolongavam-se por muitos dias e, às vezes, eram animados pela orquestra de Mestre Lôla.
Foi em uma dessas festas, no réveillon de 1945 que conheceu e começou a namorar com Talma Reis.
Ele estava convocado para se engajar na tropa brasileiras que combatia na Italia guerra, mas quando estava próximo o dia do embarque a guerra acabou.
A pedido do médico Jaldo Reis, irmão de Talma,Yvonne estimulou o namorado a prosseguir com os estudos.
Talma formou-se em Direito, pela Universidade Federal da Bahia, numa turma que dentre outras celebridades estavam Euclides Neto, Waldir Pires, Joir Brasileiro, Cleriston Andrade e Jurema Pena que viria a se tornar uma das atrizes mais talentosas do Brasil.
O Reitor da UFBa era Edgar Santos e o paraninfo da turma o professor Orlando Gomes.
No dia 7 de fevereiro de 1953 aconteceu o casamento de Talma Reis e Yvonne Góis Souza. Em outubro do mesmo ano nasceu Jaime Reis Neto, o primeiro filho do casal. Depois vieram Talma Reis Filho e Maria Tereza .
Jaime tem dois filhos, Nailin e Thyago, e Talma deu a dona Yvonne sete netos: Ivone, Alice, Talma Neto, Melissa, Mariana, Miguel e Rafael.
Jaime Reis Neto formou-se em Direito, pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL) e milita na Comarca de Ipiaú, enquanto Talma Filho optou pela medicina, graduando-se na Escola Baiana de Medicina.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
No ano de 1964 aconteceu uma das maiores enchentes do rio das Contas. Muitas famílias ficaram desabrigadas, grande calamidade foi verificada.

Dona Yvonne não esmoreceu, mostrou que a força do seu espírito é bem maior do que o seu corpo franzino. Desdobrou-se em altivez e inquietudes. Entrou em ação para minimizar a dor alheia.
Junto com a professora Neide Marques socorreu os desabrigados, arranjou alojamentos, providenciou alimentos, esteve de prontidão para auxiliar o prefeito Euclides Neto a vencer aquela calamidade publica.
Em algumas ocasiões arriscou a própria vida nesse exercício da fraternidade. Fez o papel de assistente social voluntária da Prefeitura.
As chuvas prolongadas, os temporais, comprometeram a estrutura da velha igreja matriz que acabou desabando.

Foi quando dona Yvonne aliou-se à beata Maria Vieira para recolher as imagens dos santos e outros objetos do templo, os quais ficaram guardados em sua residência e nas casas das paroquianas Loló Midlej e Judite Vieira.
Depois de acomodar os santos, dona Yvonne conseguiu que um fazendeiro emprestasse seu armazém na Rua Castro Alves para que a igreja não interrompesse as atividades.
Nesse período passaram pela Paróquia de São Roque, celebrando missa no armazém, os padres João Rocha Martins e Emmanoel Ranchella.
Dona Yvonne Reis também deu sua contribuição na construção do atual templo da Igreja Matriz de São Roque.
Conseguiu doações, articulou promoções e vendeu cartelas do bingo, dentre outras ações que resultaram em importantes arrecadações.
Também contribuiu para que freiras da Sagrada Família chegassem em Ipiaú.
A CASA DA MENOR
No processo de criação da Casa da Menor ela esteve na linha de frente junto com as rotarianas Alvina Godinho, Sonia Magalhães, Nicia Ramos e Gelinha Gondim.

Liderou campanhas, arrecadou recursos, estruturou a instituição que se tornou em uma fundação com o nome de Alvina Godinho e foi inaugurada no dia 14 de maio de 1983.
A primeira turma esteve constituída por 10 meninas. Registros indicam que ao longo de 34 anos mais de 300 garotas foram acolhidas na casa.
Em todo esse tempo dona Yvonne esteve presente, dando atenção, carinho, esperança e melhores condições de vida às órfãs carentes ali residentes.
Dona Yvonne faz questão de ressaltar o apoio recebido do médico Roberto Nascimento , proprietário da Clinica São Roque, em inúmeras ações beneficentes.
Ela também cita como grandes colaboradores da instituição as pessoas de Pedro Teixeira, Zezito Amaral, Alípio Oliveira Filho (Alipinho), Eduardo Pereira Alves (Dú), Gildeval Campos (irmão de Dr. Leoncio), Nerivan Xavier, Analisia Alves de Araujo e a empresa Leite Galileia, além dos funcionários da casa.
RECONHECIMENTO
Alguns setores da comunidade ipiaúense têm expressado reconhecimento ao trabalho desenvolvido por dona Yvonne Reis.

Homenagens lhes foram feitas pelo promotor de eventos João Araujo, pela Associação dos Aposentados do Banco do Brasil, Rotary Clube e pela Loja Maçônica Fraternidade Rionovense.
A vereadora Andréia Novaes-PMDB- anunciou que vai protocolar um Projeto de Resolução concedendo a dona Yvonne o titulo de “Cidadã Ipiaúense”.
Em uma placa dourada que a Loja Maçônica entregou a dona Yvonne no dia 8 de março de 2014, consta a seguinte inscrição:
“Uma homenagem a quem, com sabedoria, transformou nosso dia a dia em algo mais suave e encantador”.
Pura verdade. Justo reconhecimento a quem sempre fez o bem.

Por-
-José Américo Castro

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