Maia diz a Temer que não será fácil barrar segunda denúncia de Janot
© Antonio Cruz/Agência Brasil Ambos se reuniram, durante o fim de semana, para traçar um panorama sobre o cenário de apoio ao presidente na Câmara |
O presidente Michel Temer está
preocupado com a informação, divulgada na última semana, de que o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai apresentar uma segunda
denúncia contra ele, desta vez por obstrução de justiça ou organização
criminosa.
Por isso mesmo, esteve reunido,
durante o fim de semana, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, no Palácio
do Jaburu, para traçar um panorama sobre o cenário que encontraria, entre a
base governista, caso Janot decida agir.
Segundo o colunista Lauro Jardim,
de O Globo, alguns ministros disseram, no entanto, que a realidade
"pintada" por Maia não foi das mais animadoras. Segundo o presidente
da Câmara, muitos dos aliados estão insatisfeitos com as promessas feitas por
Temer, para se livrar da primeira denúncia, e que ainda não foram cumpridas.
Relembre o caso
Na última quinta-feira (24), a
imprensa divulgou que, antes de encerrar o seu mandato à frente da
Procuradoria-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot vai apresentar uma segunda
contra o presidente Michel Temer. A equipe do procurador-geral, que será
substituído por Raquel Dodge no dia 18 de setembro, já trabalha, inclusive, no
texto básico da acusação, de acordo com informações de O Globo.
Temer já foi alvo de uma denúncia
anteriormente, por corrupção passiva, mas conseguiu rejeitá-la no plenário da
Câmara, durante votação ocorrida no último dia 2 de agosto.
Desta vez, a expectativa é que
Janot o acuse de obstrução de justiça ou organização criminosa, conforme
inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O material contra o presidente se
baseia nas delações de executivos da JBS. Joesley Batista, um dos sócios da
empresa, chegou a entregar aos investigadores da Lava Jato um áudio contendo
conversa entre ele e Temer, durante encontro fora da agenda presidencial, no
Palácio do Jaburu.
Na ocasião, o empresário conta
que "comprou" um procurador para atrapalhar as investigações da
força-tarefa, e que está pagando uma mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha, a fim
de mantê-lo em silêncio na prisão. Além disso, comenta com o presidente que
está precisando de um novo interlocutor no governo, ao que Temer indica o nome
do seu então assessor Rocha Loures. Diz que Joesley pode tratar de tudo com
ele.
Depois do acerto, Loures foi
flagrado pela Polícia Federal (PF), em uma ação orquestrada junto ao Ministério
Público Federal (MPF), recebendo uma mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud,
diretor da JBS.Segundo a investigação, o dinheiro seria parte de propina que,
ao longo de 20 anos, rendeu cerca de R$ 400 milhões a políticos do país,
inclusive ao presidente Michel Temer, para quem, supostamente, seria destinada
a quantia de meio milhão entregue a Loures.
Apesar de, após a rejeição da
denúncia na Câmara, os aliados de Temer acreditarem que Rodrigo Janot perderia
força, esta semana Lucio Funaro, apontado como operador financeiro do PMDB e
ligado a Eduardo Cunha, assinou acordo de delação premiada.
Após três meses de negociações, o
acerto foi concluído e, segundo fontes ligadas à investigação, é possível que o
procurador-geral se baseie nos depoimentos e documentos apresentados por ele
para denunciar Michel Temer, mais uma vez.
Nas tratativas iniciais, ele
prometeu falar sobre um expressivo número de políticos, entre eles o presidente
e bancada parlamentar ligada a Cunha.Ainda quando da conversa entre Joesley e
Temer, no Jaburu, o empresário
também afirmou que fazia pagamentos a Funaro. Depois, a PF também flagrou Saud
entregando outra mala com R$ 500 mil, desta vez à irmã de Funaro, Roberta, que
acabou presa.
O operador financeiro disse que o
dinheiro era para quitar uma dívida, mas Joesley contestou a informação e
afirmou que o objetivo do pagamento era evitar a delação de Funaro, que está
preso desde 2016.
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