Lava Jato apura sociedade entre corruptos, corruptores e operadores
© Paulo Whitaker / Reuters Empresa denominada "Brasil Trade" beneficiaria PT e PMDB |
A Operação Lava Jato encontrou
documento com "diretrizes" para criação de uma empresa, denominada
"Brasil Trade", que pode ser a formatação de uma sociedade entre
corruptos, corruptores e operadores de propinas, responsáveis por desvios em
contratos com a Petrobras, que beneficiaria PT e PMDB: 40% para os partidos.
O achado faz parte da 45ª fase da
Operação Lava Jato, deflagrada nesta quarta-feira, 23. Batizada de Operação
Abate II, a Polícia Federal fez buscas e apreensões em endereços dos advogados
Tiago Cedraz Leite de Oliveira - filho do ministro do Tribunal de Contas da União
(TCU) Aroldo Cedraz - e Sergio Tourinho Dantas, e da ex-assessora de Cândido
Vaccarezza (ex-PT) Ana Claudia de Paula Albuquerque.
Os dois advogados, que são
sócios, fariam parte da sociedade capitaneada pelos lobistas Jorge Luz e Bruno
Luz - pai e filho -, presos desde fevereiro, pela Lava Jato.
"Referência a ambos (Cedraz
e Dantas) foram encontradas no próprio documento que estabelecia as diretrizes
iniciais do grupo denominado de 'Brasil Trade', assim como em outro que
estabelecia aparente participação nos lucros a cada um dos envolvidos em
oportunidade negocial ainda não identificada", informou o delegado da PF
Filipe Hille Pace, em seu pedido de buscas na Abate II.
"Em decorrência do nível de
cognição investigativa que havia se alcançado até aquele momento, julgou-se
provável que dirigentes da empresa norte-americana Sargeant Marine tivessem se
beneficiado indevidamente com recursos gerados mediante a contratação, mediante
corrupção, da empresa pela Petrobrás com o auxílio do grupo criminoso então
denominado 'Brasil Trade'", informa a PF. "40% do comissionamento era
destinado ao pagamento de propina a Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza e outro
agente político e 20% a Paulo Roberto Costa", informa o pedido enviado ao
juiz federal Sérgio Moro.
Em outro registro encontrado pela
PF referente a Trade Brasil, há uma divisão: "CONVERSADO / 40% POL
(PT/PMDB) / 40% COORDENAÇÃO / 20%: CASA".
O documento com as
"diretrizes" tem 12 itens sobre a formação da firma. "Formação
da TRADE BRASIL - Como explanado por CH e BO, o custo para implementação de uma
Trading no Brasil é alto, razão pela qual a Trade Brasil deverá ser constituída
inicialmente de forma OFF SHORE para as operações iniciais", informa o
item 6, da lista de "diretizes" apreendida pela PF. "E logo que
se tenha sustentação própria viabilizaria-se uma empresa no Brasil visto ser
intenção de que a Fundação venha entrar de sócia ou mesmo operar com a Trade
Brasil."
Há referência ainda ao local de
funcionamento, que seria no Rio, menção a uma reunião inicial em 2010, com
aporte inicial de R$ 100 milhões previstos, negócios com "BR
Distribuidora", Petrobras, fornecimento de asfalto para Salvador e
Fortaleza, na Argentina e em Tampa (EUA).
Os registros estão todos em
siglas, que a polícia tenta confirmar os significados. "Casa" seria a
propina para os agentes da Petrobras, entre eles Paulo Roberto Costa, Márcio
Aché e Murilo Barbosa Sobrinho. , José Raimundo Pereira Brandão
A formação da Brasil Trade tem
relação com o negócio alvo da Operação Abate, 44ª fase da Lava Jato, fechado
com a empresa Sargeant Marine, que levou para a cadeia Vaccarezza, no dia 18
passado.
A atuação do grupo em favor da
empresa norte-americana com a Petrobras culminou na celebração de doze
contratos, entre 2010 e 2013, no valor de aproximadamente US$ 180 milhões. A
empresa fornecia asfalto para a estatal e foi citada na primeira delação do
escândalo, feita pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa em agosto
de 2014.
Segundo Jorge Luz, Edison Lobão
teria sido, ao lado do ex-deputado Cândido Vaccarezza, padrinhos políticos do
contrato. Vaccarezza não desfruta mais de foro especial. Ele havia sido preso
por ordem do juiz federal Sérgio Moro. Na noite terça-feira passada, 22, o
ex-líder dos Governos Lula e Dilma na Câmara foi solto.
No âmbito do termo para
fornecimento de asfalto, Vaccarezza é investigado por propinas de US$ 500 mil;
já Lobão e seu suposto representante, Murilo Barbosa Sobrinho, são atrelados a
repasses de US$ 450 mil em planilhas de pagamentos via offshore entregues pelos
operadores de propinas.
"Em virtude da proximidade
do então agente da Petrobras Márcio Aché com o Murilo, que seria o representante
dos interesses de Lobão, foi acomodado uma parte dos valores que eram recebidos
da comissão pelos contratos da Sargeant Marine para o senador. Isso foi dito
pelos operadores, já está em sigilo e contra isso não foram tomadas medidas
nenhuma aqui na primeira instância", afirmou o delegado da PF.
Desdobramento
A segunda etapa da Abate alcança
o filho do ministro do TCU e seu sócio na Trade Brasil. O suposto envolvimento
de Cedraz, e também do advogado Sérgio Tourinho - igualmente, alvo de buscas na
Abate II -, foi revelado pelos operadores de propinas do PMDB Jorge Luz e Bruno
Luz, pai e filho.
Para a PF, Cedraz e Tourinho
"tinham funções específicas dentro do 'Brasil Trade' para acompanhamento
de outros assuntos negociais de interesse do grupo.
Defesas
O criminalista Antônio Carlos de
Almeida Castro, conhecido como Kakay, que Defende Lobão, divulgou nota sobre o
assunto. "O senador não conhece nem pai nem filho, nunca ouviu falar nesta
empresa que eles citam e não tem nenhum tipo de relação e nunca esteve
pessoalmente com eles - salvo se participaram de alguma audiência pública. E,
sobre a outra pessoa (Murilo), ele conhece, tem um relacionamento pessoal, mas
nunca participou de campanha de arrecadação para ele", diz o texto.
O advogado Tiago Cedraz reitera
sua tranquilidade quanto aos fatos apurados por jamais ter participado de
qualquer conduta ilícita, confia na apuração conduzida pela Força Tarefa da
Lava Jato e permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários.
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