Emendas usadas por Temer para se salvar fazem a festa de deputados
© REUTERS/Adriano Machado Valores de empenho das emendas parlamentares deram um salto nos últimos meses |
Um trator para uma associação
rural no interior do Paraná, um campo de futebol em uma vila em Roraima e um
terminal de ônibus na cidade mineira de Guaxupé serão parte dos gastos de mais
de R$ 4 bilhões com emendas parlamentares empenhadas (reservadas) pelo governo
Michel Temer em meio à crise.
Deputados federais agraciados com
essas verbas comemoraram em suas bases a liberação e fizeram propaganda dos
recursos obtidos.
O paranaense Edmar Arruda (PSD)
rodou por sete cidades do interior para entregar "comprovantes de
empenho" a políticos de sua base eleitoral. Entre os gastos prometidos,
estão mobiliário para uma Apae, uma van para a entidade, equipamentos agrícolas
e uniformes para servidores de uma prefeitura.
Arruda fez eventos com prefeitos
e publicou fotos em seu perfil no Facebook –uma das imagens mostra faixas e
balões para homenageá-lo pela entrega de um veículo obtido anteriormente.
No início do mês, ele votou
contra a denúncia sobre Temer. Os valores de empenho das emendas parlamentares
deram um salto nos últimos meses e foram um dos meios do governo para garantir
apoio na votação que suspendeu o trâmite da acusação da Procuradoria-Geral da
República contra o presidente.
O empenho significa que o governo
se compromete a liberar o dinheiro.Édio Lopes (PR-RR) gravou um vídeo sobre o
projeto de um campo de futebol para uma vila rural no município de Mujacaí (de
15 mil habitantes) onde sua mulher é prefeita. "Com alambrado, arquibancada,
luminária, para que possam praticar futebol à noite", disse, na gravação.
A verba, de R$ 700 mil, foi empenhada no fim de maio.
Na véspera da votação da
denúncia, Celso Jacob (PMDB-RJ) publicou em formato de lista suas emendas
beneficiadas neste ano, somando R$ 4 milhões, entre verbas para uma
universidade e unidades de saúde. Ele ficou conhecido por estar preso em regime
semiaberto e sair apenas para ir à Câmara trabalhar.
A lei obriga que metade dessas
verbas seja destinada à saúde. O alagoano Arthur Lira (PP) anunciou em, julho,
que havia "acabado de obter o empenho" de emendas individuais, para
unidades em três cidades do Estado.
Em Roraima, a deputada Shéridan
Anchieta (PSDB) anunciou R$ 4,7 milhões empenhados para o município de Cantá
(de 16 mil habitantes) para infraestrutura de ruas, como recapeamento.
A pavimentação, aliás, tende a
ser vista como uma prioridade: o baiano Arthur Oliveira Maia (PPS) anunciou o
empenho de R$ 1,5 milhão para ruas de Jacobina, município de 83 mil habitantes.
Festejou postando uma animação com o valor, em julho.
IMPOSITIVO
No dia da votação da denúncia, o
ministro tucano Antonio Imbassahy foi visto discutindo emendas no plenário. O
governo Temer tem dito que elas são de pagamento obrigatório e que avaliação
prévia é feita no próprio Congresso.
Os deputados vêm negando relação
entre o empenho das verbas e o voto na denúncia. Edmar Arruda afirmou que o
empenho de emendas independe da posição política de cada um. Disse ainda que
recursos desse tipo são a "devolução dos impostos pagos" e que visita
as cidades fora da agenda da Câmara.
Ausente no dia da votação –o que,
na prática, beneficiou Temer–, Shéridan disse, via assessoria, que os deputados
têm um limite de emendas de R$ 15,3 milhões e que o empenho já era previsto.
Mesmo com a alteração na lei, em
2015, que tornou a liberação de emendas "impositiva", o governo
permanece com mecanismos de contingenciá-las."A lógica de cada parlamentar
ter o direito de colocar [a verba] onde quiser, geralmente em seu curral
eleitoral, é absurda. Desobriga a pelo menos ter de convencer os colegas de que
aquilo é importante", diz o doutor em direito público Eduardo Mendonça,
professor do Centro Universitário de Brasília. (Folhapress)
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