Comissão especial da Câmara aprova texto-base da reforma política
© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil |
A comissão especial que analisa a
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 77/03, que trata da reforma política,
aprovou no final da noite ontem (9), por 25 votos a 8, o parecer apresentado
nessa quarta-feira pelo deputado Vicente Candido (PT-SP). Ainda falta analisar
23 destaques de bancada. A discussão já dura mais de oito horas. A reforma
política também está sendo discutida por outras duas comissões da Câmara.
O texto aprovado mantém o sistema
eleitoral atual para 2018 e 2020 e estabelece que o sistema de voto distrital
misto, que combina voto majoritária e em lista preordenada, deverá ser
regulamentado pelo Congresso em 2019 e, se regulamentado, passaria a valer para
as eleições de 2022. De acordo com o parecer do relator, o voto distrital misto
será adotado para a eleição dos cargos de deputados federal, estadual e
distrital e vereador nos municípios com mais de 200 mil eleitores. O sistema de
lista preordenada seria adotado nas cidades com menos de 200 mil eleitores.
Pelo sistema misto, o eleitor
vota duas vezes: uma na lista preordenada pelo partido de interesse e outra no
candidato de seu distrito. Os votos recebidos pelo partido são contabilizados
de forma proporcional e indicam o número de cadeiras a que tem direito. Os
votos nos candidatos dos distritos é contabilizado de forma majoritária,
considerando metade das cadeiras.
Distritão
O sistema eleitoral gerou muita
polêmica e pode ser alterado por meio de destaque. Deputados do PMDB, PSDB,
DEM, PP, PSD, PSB e PPS preferem o “distritão”, modelo em que são eleitos para
o Legislativo os candidatos mais votados nos estados.
O líder do DEM, deputado Efraim
Filho (PB), afirmou que o "distritão" é mais simples que o sistema
atual, que leva em conta não só os votos individuais de cada candidato, mas os
votos totais recebidos por todos os candidatos do partido para determinar o
número de cadeiras a que a legenda terá direito. "Os eleitores não são
técnicos, nem teóricos, nem cientistas políticos, o que os eleitores entendem
é: quem recebeu mais votos será o meu representante", disse.
O deputado Marcos Pestana
(PSDB-MG) avaliou ainda que o "distritão" é a melhor alternativa para
a transição até 2022, tendo em vista a impossibilidade apresentada pelo Supremo
Tribunal Federal de dividir o país em distritos menores para a eleição de 2018.
"Nós chegamos tão ao fundo do poço que o distritão é superior ao nosso
atual sistema. Evita o efeito do campeão de votos que traz para a Casa pessoas
sem nenhuma representatividade. Permite compatibilizar os recursos escassos com
menor número de candidaturas. Será um grande avanço fazermos a transição para o
distrital misto com o 'distritão' em 2018”, disse Pestana.
Oposição
Deputados do PT, PCdoB, PSOL, PHS
e PR declararam, entretanto, ser contrários ao "distritão". O PT
tentará derrubar tanto o distritão quanto o distrital misto nos destaques.
Durante a discussão, o deputado
Henrique Fontana (PT-RS), criticou o que chamou de “artimanha” com a votação de
um sistema que não está no texto e considerou a adoção do voto majoritário para
deputados e vereadores um retrocesso por impedir a renovação. "Se tem 31
vagas em disputa, esse distritão vai chegar ao ponto assim de, talvez, ter 40
candidatos. O dia que o eleitor sai de casa com seu título de eleitor para
renovar o parlamento, porque acredita na democracia, vai chegar lá e ver que os
candidatos são todos os que já são deputados e que só há meia dúzia de
candidatos novos", disse.
O líder do PSOL, deputado Glauber
Braga (RJ), disse que quem está votando no distritão é porque quer campanhas
bilionárias para ter um processo mínimo de renovação parlamentar. “A gente não
precisa sair de um sistema que seja bilionário empresarial para um sistema que
seja bilionário com recursos públicos", disse.
Financiamento
O relatório da reforma política
apresentado por Vicente Candido cria o Fundo Especial de Financiamento da
Democracia, que contará com 0,5% das receitas correntes líquidas (somatório das
receitas tributárias de um governo, referentes a contribuições, patrimoniais,
industriais, agropecuárias e de serviços, deduzidos os valores das
transferências constitucionais) do Orçamento, o que corresponde hoje a cerca de
R$ 3,5 bilhões.
O parecer final também determina
que caberá ao diretório nacional do partido definir, 30 dias antes da escolha
dos candidatos, como serão divididos os recursos para o custeio das eleições.
Esse ponto também será objeto de destaque do PT, que defende a definição desses
critérios em lei ordinária.
Ao final da discussão da matéria,
Vicente Candido disse ter procurado trabalhar a lista fechada e um fundo mais
modesto para financiar as eleições, mas não foi bem sucedido. Ele fez um apelo
para que, na votação dos destaques, não se "jogue fora tudo o que se
discutiu até o momento".
"Há destaques para todos os
gostos, em todos os itens. Na reta final, quando formos agrupar, que a gente
não saia daqui votando só fundo e só sistema de votação, distritão ou distrital
misto. Acho isso muito pobre para oito meses de trabalho", disse. Com
informações da Agência Brasil.
Comentários