BNDES volta a ser o centro das atenções em Brasília
BNDES: em dia em que o banco é alvo de CPI, a nova taxa de juros deve ser aprovada pelo governo (Nacho Doce/Reuters) |
O maior banco de fomento do país
volta a ser o centro das atenções em Brasília nesta quarta-feira. No Senado, a
CPI que investiga denúncias de irregularidades nas concessões de crédito do
BNDES ouve o diretor-financeiro da instituição, o economista Carlos Thadeu de
Freitas Gomes. Enquanto isso, a Taxa de Longo Prazo (TLP), que acaba com os
créditos subsidiados do banco, deve ser votada no Senado já nesta quarta-feira.
A medida provisória (MP) que trata da TLP perde a validade no dia 6 de
setembro.
A MP é tida pelo governo como uma
das principais medidas fiscais do país, ao lado da reforma da Previdência, mas
economistas começam a alertar que ela não basta para acabar com os problemas do
BNDES e do crédito subsidiado do país. “Um dos grandes problemas dessa MP é que
ela não define o principal: o papel do BNDES. O BNDES é um gigante banco de
fomento que não tem mandato e nem missão”, diz a economista Monica De Bolle,
pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington.
Ela defende que o banco precisa ter um mandato independente e uma função
definida para impedir que volte a ser utilizado como um instrumento político em
governos no futuro.
Além disso, a economista alerta
que a MP sozinha não resolve o problema do crédito direcionado no país, isto é,
o crédito com taxas menores daquelas ofertadas pelo mercado e muitas vezes
subsidiadas. O crédito subsidiado é uma grande preocupação entre economistas
porque impacta diretamente a política monetária do país (reduzindo sua
eficiência), dificulta a ampliação de outros mercados (como o de mercado de
capitais e de crédito privado) além de acarretar em um aumento da dívida
pública.
Atualmente o BNDES corresponde
por cerca de 35% do crédito direcionado no país. Ao todo, o crédito direcionado
corresponde a estrondosos 50% do total de crédito do brasil (o equivalente a
1,54 trilhão de reais) — um percentual que iguala o país à China. Isso
significa que a TLP não vai ter impacto em todo o sistema de crédito
direcionado do país, mas em apenas 35% dele. Resolve o principal, mas o
restante (financiamentos imobiliários e empréstimos rurais) continuarão tendo
impacto na política monetária e fiscal do país.
Além disso, nesta terça-feira, o
Banco do Brasil anunciou que oferecerá 50 bilhões de reais em créditos a
projetos de infraestrutura, numa declaração que surpreendeu analistas. “É no
mínimo heterodoxo que um banco comercial financie projetos de longo prazo”, diz
um economista. Entre indas e vindas, o Brasil continua carecendo de projetos
que tragam racionalidade econômica no longo prazo.
(EXAME.com)
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