Para procurador, acordo com a JBS prejudicou imagem da Lava Jato

Paulo Whitaker/ReutersCarlos
Fernando Lima diz que delação foi mal compreendida
O procurador federal Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba,  declarou que o acordo de delação premiada fechada com os empresários da JBS prejudicou a operação: "Houve um dano de imagem a toda a investigação, que contamina tudo. De repente, aqui no Paraná, nos vimos tendo que responder sobre isso", disse.
Lima falou, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo publicada nesta sexta-feira (28), sobre o andamento dos trabalhos e comentou o acordo. Para ele, o acerto não foi bem compreendido. "Realmente em termos de comunicação foi muito complicado para o Ministério Público. O acordo é muito mal compreendido pela população. Isso é um erro nosso. Seja porque o benefício talvez tenha sido deferido de uma forma muito leniente, seja porque [o MP] não se preparou adequadamente para comunicar".
No entanto, apesar das críticas, o procurador afirma que, se fosse ele, teria firmado o acordo. "Faria, se eu estivesse na mesa [negociando]. O material é mais do que suficiente. O problema é o quanto você quer o acordo e em quanto tempo. É mais ou menos como o relacionamento amoroso. Você deseja muito uma pessoa e a pessoa percebe. Ela passa a exigir, dizer: eu quero só casamento".
O procurador defende, ainda, condenações com base em indícios e diz que a decisão do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª região) de absolver João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT — que havia sido condenado a 15 anos e quatro meses pelos crimes de corrupção passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato — é grave: "Existem provas [contra Vaccari]. Dizer que inexistem é um equívoco dos juízes. O que eles poderiam dizer é que não foram convencidos. Nossa tradição jurídica diz que indícios veementes são suficientes para condenar".
Lima diz, ainda, que hoje a reação à Lava Jato é diferente: "É mais sofisticada, baseada na política. Na destruição das Dez Medidas [propostas da força-tarefa contra a corrupção], na tentativa de aprovar leis. Há um sufocamento econômico da Lava Jato. Não há como negar que a PF sofreu isso".
Operação
Nesta quinta-feira (27), a Polícia Federal deflagrou a 42ª fase da Operação Lava Jato. Foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão e três mandados de prisão temporária no Distrito Federal e nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Entre os detidos está Ademir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, bem como de pessoas a ele associadas, pela prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, dentre outros.
Segundo as investigações, o ex-presidente e pessoas próximas a ele teriam tido vantagem indevida por conta dos cargos exercidos para que a Odebrecht não fosse prejudicada em futuras contratações da Petrobras.
Em troca, o grupo teria efetuado o pagamento em espécie de ao menos R$ 3 milhões. Aparentemente, estes pagamentos somente foram interrompidos com a prisão do então presidente do grupo.



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