'Não temo reação do Planalto', diz relator de denúncia contra Temer
© Lula Marques / AGPT
Próximo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, Sergio Zveiter é visto como independente tanto pelo governo como pela oposição
|
O relator da denúncia contra o
presidente Michel Temer (PMDB) na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara,
Sergio Zveiter (PMDB-RJ), afirmou não temer reação do Palácio do Planalto caso
apresente parecer favorável à aceitação.
"Não tem como o governo me
escantear. Sou deputado federal titular e não tenho cargo", afirmou à
reportagem nesta terça-feira (4) à noite.
O deputado afirmou ainda que está
"tranquilo" quanto ao fato de seu nome não ter sido bem recebido pelo
Planalto, que articulava para conseguir um relator mais próximo do governo.
"É uma denúncia contra o presidente apresentada pelo procurador-geral da
República [Rodrigo Janot], não tem como agradar os os dois", disse.
Próximo do presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), o parlamentar é visto como independente tanto pelo
governo como pela oposição, apesar de ser do partido do presidente. O relator
também afirmou que pretende seguir o prazo de cinco sessões estabelecido para a
tramitação na CCJ, mas que há fatores "fora de seu controle".
Pergunta: Por que o sr. acredita
que foi escolhido para relatar?
Dep. Sergio Zveiter: Sou uma
pessoa assídua aqui na comissão, a minha formação profissional é de advogado,
eu fui presidente da OAB do Estado do Rio duas vezes, e sou realmente
independente. Vou poder fazer o trabalho que vise obedecer o que a Constituição
e o regimento preveem.
Pergunta: A tarefa é polêmica e o
cargo deve receber bastante pressão por todos os lados agora. Por que o sr.
decidiu aceitar?
Dep. Zveiter: Eu tinha sido
cotado para ser relator da reforma da Previdência, acabei declinando, depois o
presidente [da Câmara] Rodrigo Maia [DEM-RJ] me ofereceu outras relatorias, eu
não queria porque não achei que era o momento. Mas agora, quando se aventou a
possibilidade, eu me convenci interiormente que eu, como deputado federal,
deveria aceitar o desafio.
Pergunta: Qual a sua relação com
o Rodrigo Maia? Ele teve alguma influência nessa decisão da escolha da
relatoria?
Dep. Zveiter: Eu sou amigo do
Rodrigo Maia há muitos anos, até antes da política. Sou amigo dele independente
da política, mas nesse episódio ele não falou nada comigo.
Pergunta: O sr. entende que uma
troca de governo agora pode aumentar a instabilidade política e econômica no
país?
Dep. Zveiter: O que compete a mim
como relator é analisar o que tem no processo, sob aspecto do que a CCJ tem que
fazer. É a isso que eu vou me restringir, até porque a última palavra não é
minha. O parecer vai ser votado na CCJ e depois vai ser levado pro plenário. No
momento eu não posso pensar em desdobramentos, hipóteses.
Pergunta: A reação do Planalto ao
seu nome não foi otimista, o sr. não era a primeira escolha do governo. Como
reage a isso?
Eu estou tranquilo, porque para
mim o importante é eu estar em paz com a minha consciência. Fatalmente eu posso
desagradar uns ou outros. E se trata de uma denúncia contra o presidente
apresentada pelo procurador-geral da República, então dificilmente eu vou
conseguir agradar os dois.
Pergunta: O sr. tem medo de ser
escanteado pelo Planalto se apresentar um parecer favorável à denúncia?
Dep. Zveiter: O governo não tem
como me escantear. Eu sou deputado federal titular, não tenho cargo no
governo.Pergunta: Mas não teme reação nenhuma?Dep. Zveiter: Não, não temo
reação do Planalto.
Pergunta: O presidente Temer ou
algum emissário dele chegou a procurar o sr.?
Dep. Zveiter: Não, ninguém.
Pergunta: Poucos deputados mesmo
da base se arriscam a defender publicamente a aceitação da denúncia. Por quê?
Dep. Zveiter: Na posição que eu
me encontro hoje, não posso achar nada. Vou me restringir a fazer o que eu
tenho que fazer, sem me manifestar sobre o que outras pessoas tem que fazer.
Pergunta: E quando o sr. deve
apresentar seu parecer, visto que o rito prevê que haja cinco sessões na CCJ
para o processo todo a partir da defesa?
Dep. Zveiter: Eu acredito que vá
haver uma reunião formal entre o Rodrigo Pacheco [presidente da CCJ] e o
Rodrigo Maia para definir, mas em principio eu estou dentro da linha do que o
presidente Rodrigo Maia anunciou que é no sentido de cumprir o que a
Constituição e o regimento determinam.
Pergunta: Mas é possível cumprir
o trâmite todo em cinco sessões?
Dep. Zveiter: Aí eu não sei. Eu
vou estar pronto para proferir meu parecer no prazo que o regimento determina.
Agora, se o presidente Rodrigo Pacheco entender que tem que ter produção de
prova, tem a questão do recesso, se vai ter ou não, são coisas que fogem ao meu
controle.
Pergunta: Na sua campanha de
2014, o sr. recebeu R$ 1 milhão em doações da UTC, Carioca Engenharia e Andrade
Gutierrez, investigadas na Lava Jato. Qual sua relação com essas empresas?
Dep. Zveiter: A UTC foi um amigo
meu que disse que tinha uma pessoa que queria doar pra mim, e foi a única vez
que eu estive com o Ricardo Pessoa pessoalmente. Ele disse que acompanhava meu
trabalho e queria me ajudar e eu disse que tudo bem, que formalizasse. E depois
deu o que deu, quando eu vi ele preso falei "caramba". No caso da
Carioca e da Andrade, certamente foi uma questão de doação para o partido. Com
informações da Folhapress.
Comentários