Eventual Presidência de Maia pode dar alívio sem estabilidade
Maia: analistas apontam que as implicações contra Maia ainda são menos graves do que as que pesam contra Temer (Lucio Bernardo Jr./Agência Câmara) |
São Paulo – A eventual ascensão
de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à Presidência da República pode dar algum refresco no
atual cenário de turbulência política sem, no entanto, garantir a estabilidade
política e a governabilidade necessárias para a aprovação de medidas legislativas
e para a retomada de credibilidade junto à opinião pública.
O presidente da Câmara dos
Deputados tem sido cada vez mais apontado como sucessor do presidente Michel
Temer, atolado em denúncias.
Temer pode ser afastado do cargo
caso os deputados autorizem o Supremo Tribunal Federal (STF) a avaliar uma
denúncia contra ele e caso a corte decida tornar o presidente réu.
Nesse caso, Maia assumiria a
Presidência interinamente, mas sua eventual eleição em caso de perda de mandato
de Temer também tem ganhado corpo.
“Talvez se saia dessa
instabilidade de ‘o presidente vai preso, o presidente não vai preso’ e você
entre numa outra onda um pouco menos tensa. Mas dizer que ele vai ser o
garantidor das reformas, do processo econômico, isso já é exagero”, disse à
Reuters o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
Analistas ouvidos pela Reuters
lembraram que Maia e seu partido, o DEM, têm um diferencial em relação a Temer
e ao PMDB na seara das recentes denúncias, já que não estariam tão implicados
em acusações como o presidente e seu partido.
“O DEM tem uma vantagem, como
ficou muito tempo fora do governo, parece estar menos comprometido. Parece. Mas
não tem o estofo político, lideranças políticas”, disse Melo.
“Do ponto de vista criminal,
talvez estabilize. Agora, do ponto de vista da liderança política não. Do ponto
de vista da liderança política, a gente está longe disso.”
Maia foi citado em delações
premiadas de executivos da Odebrecht e responde a inquéritos no STF acusado de
pedir e receber 350 mil reais da empreiteira a pretexto de auxílio em campanha
eleitoral em 2008, ano em que não disputou eleição, e de receber 100 mil reais
do setor de propinas da construtora sob o codinome “Botafogo”.
“Maia com certeza sabe onde o
calo aperta”, disse Danilo Gennari, sócio da Distrito Relações Governamentais
em Brasília, sobre as acusações contra o presidente da Câmara.
Os analistas, entretanto, apontam
que as implicações contra Maia ainda são menos graves do que as que pesam
contra Temer e que as acusações dos delatores ainda precisam ganhar
materialidade. Maia nega quaisquer irregularidades e disse que os inquéritos no
STF serão arquivados.
“Ele não é a primeira opção de
ninguém, talvez nunca tenha sido, mas dada a conjuntura, a escolha que existe
hoje é o Temer ou o Maia. Nessas condições o Rodrigo Maia consegue muito mais
apoio que o Temer. Então é uma questão de tempo”, disse Gennari, para quem Maia
deve ser eleito presidente indiretamente até o fim do mandato atual após
possível afastamento e perda de mandato de Temer por condenação no Supremo.
“Ninguém vai querer que o Brasil
tenha um quarto presidente em dois anos, três anos”, avaliou.
Reformas
Para o analista político Rafael
Cortez, da Tendências Consultoria Integrada, em São Paulo, o fato de ter havido
uma convergência em torno do nome de Maia como alternativa a Temer complica a
vida do presidente.
“A grande mudança no debate
político no curto prazo foi o fim daquela fase de especulação sobre quem
poderia ser um plano alternativo ao Temer”, disse.
“É um elemento importante na
análise da luta pelo mandato presidencial, dado que essas trocas de chefe de
governo fora do período eleitoral no presidencialismo precisam contemplar esses
dois pontos: apoio para a saída do chefe do Executivo, mas mais do que isso, o
apoio ao nome alternativo”, explicou.
A chegada de Maia ao Palácio do
Planalto não deve, no entanto, assegurar a aprovação de reformas consideradas
prioritárias por Temer e defendidas pelo mercado financeiro, especialmente da
Previdência, ao contrário do que procurou sinalizar o presidente da Câmara em
publicações em sua conta no Twitter nesta sexta-feira.
Maia usou a rede social para
afirmar que, em vez de “potencializar” a crise, é preciso ter “muita tranquilidade
e prudência” no momento, e defendeu que se deve avançar na agenda de reformas
no país.
“Um ponto importante é evitar uma
análise de que a simples troca presidencial implicaria na superação dos dilemas
de governabilidade. Do ponto de vista da agenda das reformas, seja a
continuidade do Temer, seja Rodrigo Maia, a tendência é de redução do espaço
para aprovação dessas medidas”, disse Cortez, apontando que possivelmente a
única certeza nessa transição seria a manutenção por Maia da equipe econômica
de Temer.
“Provavelmente o governo deve
continuar com baixa popularidade e com déficit de legitimidade à luz do
eleitorado e da sociedade como um todo, o que naturalmente sinaliza que não
necessariamente a simples troca é a solução para os problemas de
governabilidade que afetam a agenda econômica”, acrescentou.
(Fonte: Exame.com)
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