Discurso de aiatolá que chegou ao Brasil é uma ameaça à paz e ao diálogo, diz líder de entidade judaica
Aiatolá foi fotografado durante o desembarque no BrasilRoberto Grobman |
A chegada o aiatolá Mohsen Araki
a São Paulo, nesta quinta-feira (27), foi cercada de mistério mas, mesmo com o
cancelamento da palestra que ele iria dar em um hotel paulistano, parte de sua
agenda foi mantida. Araki defende a destruição do Estado de Israel, tendo já
declarado que Israel é um câncer que
deve ser extirpado. No Brasil, ele iria falar sobre o tema “Os muçulmanos e o
enfrentamento ao terrorismo radical”.
A palestra, inicialmente marcada
para o próximo sábado (29), possivelmente foi transferida para um local
desconhecido, até o momento, do público em geral. Contatada pela reportagem do
R7, a assessoria da PF (Polícia Federal) em São Paulo afirmou que a entidade
está ciente da chegada do aiatolá, mas ressaltou que não pode passar a
informação se ele está sendo monitorado, por "questões de segurança".
Segundo a informação recebida,
não há como barrar uma pessoa por discordância de ideias. Ela só poderia ser
barrada por motivos que estão descritos em lei, como tráfico, documentação
falsa, mentira sobre objetivo da vinda, ausência de passaporte. Uma ação
judicial deferida poderia também impedir alguém de entrar no País. A secretária
de Direitos Humanos do Rio, Teresa Bergher, encaminhou há alguns dias um pedido
formal ao Ministério da Justiça e ao Itamaraty, solicitando o veto à entrada do
xiita.
Próximo do aiatolá Ali Khamenei
(lider supremo do Irã) e do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, Araki está
sendo duramente criticado pelas instituições judaicas por suas pregações e um
discurso de ódio que, segundo o diretor executivo do IBI (Instituto Brasi
Israel), André Lajst, contradiz qualquer dita mensagem de paz ou o de combate
ao radicalismo. Ele afirma que, no Irã, onde o iraquiano Araki se radicou e se
tornou um dos 88 membros do Conselho de Notáveis, o próprio regime é opressor,
com eleições direcionadas e repressão forte a minorias.
— Araki representa um regime
ditatorial. O perigo do discurso dele é que ele incentive a tendência de
conceber o mundo de uma maneira binária. Ele vê o Estado Islâmico, sunita, como
terrorista, sendo o grupo contrário ao Irã xiita. Mas ele não vê o Hezbollah
como terrorista, já que é simpatizante do grupo que já fez atentados pelo
mundo, inclusive na Argentina na década de 90.
Lajst diz que tal maniqueísmo é
um caminho que leva justamente para um lado oposto ao da conciliação.
— Essa é uma maneira problemática
de enxergar o mundo, ele vai estar promovendo uma radicalização para um lado,
por mais que diga que está combatendo o outro lado. Tem de combater o radicalismo
em todas as formas, não denegrir uma para promover outra.
O homem que quer destruir Israel
está entre nós. Como um pensador livre e badalado. Ficaremos quietos?
E o radicalismo das palavras do
aiatolá, conforme frisa Lajst, se dirigem de maneira implacável contra Israel.
Não há como, segundo ele, encontrar uma forma de diálogo em tais condições.
— O regime iraniano é contra a
existência do Estado de Israel como um lar do povo judeu, não existe negociação
nisso. Para Israel, não é como conversar com palestinos para chegar a um acordo
ou com outro país que também não reconheça mas há como argumentar. No caso do
Irã, que Araki representa, é um caso isolado no mundo muçulmano, o país é
absolutamente contra Israel, não importa a concessão. Isso já é um discurso
violento que desestimula o diálogo e a paz.
Aiatolá que prega a destruição de
Israel entra no Brasil sem restrições
A Fisesp (Federação Israelita do
Estado de São Paulo) entrou novamente em contato com as autoridades brasileiras
para alertar sobre o discurso discriminatório do aiatolá, conforme ressaltou o
presidente executivo da entidade, Ricardo Berkiensztat.
— Já fizemos contato com
autoridades e até reafirmamos. Não sei se a PF está monitorando a visita, não
tenho essa informação. Não há confirmação formal de que o aiatolá chegou,
provavelmente tenha entrado no País, mas é um trabalho para a PF ou quem de
direito como o Itamaraty. Não passa por nós, não prestam contas. Apenas
alertamos para o perigo que essa pessoa extremista representa.
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