Nobel da Paz lança campanha global pelo fim do trabalho infantil no Brasil
Trabalho infantil em feiras livres em Quipapá (PE) |
No Dia Mundial contra o Trabalho
Infantil, celebrado hoje (12), o indiano Kailash Satyarthi, prêmio Nobel da Paz
de 2014, lançou em Brasília a campanha 100 Milhões por 100 Milhões, contra o
trabalho infantil e toda forma de exclusão de crianças e adolescentes. O
objetivo é mobilizar 100 milhões de pessoas, estimulando especialmente os
jovens, a lutar pelos direitos de crianças em situação de vulnerabilidade.
“O aspecto mais importante é que
a campanha seja dirigida pelos jovens. Queremos engajar no mínimo 100 milhões
de crianças e adolescentes que possam ser a voz das que são desfavorecidas.
Então, a partir de internet, os jovens podem pedir aos governantes que invistam
em educação e no desenvolvimento social. E, também, usar as mídias sociais para
desafiar as empresas que usam o trabalho infantil na sua cadeia de produção”,
disse, defendendo que é preciso investir em proteção e desenvolvimento social
para as famílias, em saúde e educação.
Em todo o mundo, cerca de 168
milhões de crianças são obrigadas a trabalhar, sendo que 85 milhões delas estão
envolvidas em trabalhos considerados perigosos.
A campanha foi lançada há cinco
meses na Índia e em Bangladesh e, agora, no Brasil. Neste ano, mais sete países
irão se engajar e, no próximo ano, mais 40. No total, em três anos, o movimento
estará lançado em 100 países. “As pessoas estão descontentes com seus políticos
e, por isso, há um engajamento muito grande”, disse Satyarthi, explicando que a
campanha também ocorre em parceria com uniões de professores e universidade,
como Harvard, Oxford e London School of Economics.
Para a estudante Ana Júlia
Ribeiro, umas das ativistas, a melhor mobilização contra a exploração infantil
deve ser por meio das redes sociais. “Temos o problema da mídia hegemônica, das
informações que a mídia tradicional não quer que cheguem à população. Teremos
que furar esse bloqueio através das redes sociais, do boca a boca, levando a
questão para a escola, usando outros meios para expandir a mobilização”, disse.
A estudante de 16 anos ficou
conhecida após um vídeo viralizar nas redes sociais com seu discurso sobre a
ocupação das escolas na Assembleia Legislativa do Paraná.
A iniciativa de Satyarthi é
coordenada no Brasil pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, com parceria
temática do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil
(Fnpeti). A agenda de lançamento contará com audiências públicas na Câmara dos
Deputados e no Senado Federal. e com a exposição fotográfica
#ChegaDeTrabalhoInfantil, organizada pelo Ministério Público do Trabalho.
Haverá ainda roda de conversa com a participação do Nobel da Paz, estudantes e
a comunidade escolar.
Tendência
No Brasil, 2,7 milhões de
crianças e adolescentes brasileiros estão em situação de trabalho, com
crescimento na população de 5 a 9 anos. Para o coordenador nacional da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a faixa etária demostra uma tendência
para o trabalho infantil, o que significa que, nos próximos anos, pode haver
crescimento em outras faixas etárias.
Segundo Cara, para enfrentar o
trabalho infantil é preciso garantir uma política de assistência social que que
traga renda às famílias, aliada a políticas adequadas de saúde e educação.
“Para enfrentar o trabalho infantil de maneira estrutural é preciso enfrentar a
crise econômica, garantindo politicas sociais, e não simplesmente cortar
recursos da área social”, disse.
Coordenador da campanha 100
Milhões por 100 Milhões no Brasil, Cara disse que é preciso chamar a atenção da
sociedade para o fato de que existe trabalho infantil. “É preciso informar
sobre crianças que trabalham no semáforo, em casa, na zona rural, para dar
visibilidade ao tema. Porque isso não é tratado na sociedade, não é debatido na
imprensa. O segundo desafio é discutir alternativas ao programa econômico
brasileiro e às políticas sociais que precisam ser expandidas”, ressaltou.
Para o diretor da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Peter Poschen, o Brasil tem uma
crise estrutural há muito tempo. “Ele se manifesta nas favelas, no fato de que,
a cada ano, 60 mil jovens morrem por mortes violentas. O dado comparativo é
que, no Japão, morrem 6 por ano. Então, tem um problema claramente estrutural e
outro que se chama recessão, o que leva à volta da incidência do trabalho
infantil, do trabalho escravo e do trabalho informal”, disse.
Formado em engenharia elétrica, o
indiano Kailash Satyarthi abandonou a carreira aos 26 anos para lutar contra o
trabalho infantil. Para isso, fundou a ONG Bachpan Bachao Andolan (Movimento
para Salvar a Infância) em 1980. Desde que foi criada, a instituição já
libertou mais de 80 mil crianças de diversas formas de escravidão e ajudou na
reintegração, reabilitação e educação delas. Por essa iniciativa, ganhou o
Prêmio Nobel da Paz em 2014, ao lado da ativista paquistanesa Malala Yousafzai,
que na época tinha 17 anos.
As informações sobre a campanha
estão disponíveis na página www.100milhoes.org.br.
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