Governo encaminha à ANS proposta de plano de saúde popular
Foto: Agência Brasil |
O Ministério da Saúde encaminhou à Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) as propostas do grupo de trabalho formado para criar um novo
formato de plano de saúde, com cobertura mais restrita e preços mais baixos. As
sugestões permitem regras mais flexíveis para aumento de mensalidades,
restringem o acesso a procedimentos mais caros e ampliam o prazo para que
operadores providenciem o atendimento a seus consumidores.
A proposta fala de
"princípios norteadores" e, em tese, limitam-se à nova categoria a
ser criada, batizada de "planos populares". Preparada por
representantes de empresas de saúde, associações médicas e de seguro, a
proposta foi encaminhada pelo Ministério da Saúde à Agência Nacional de Saúde Suplementar
em meados de janeiro. Caberá à ANS a palavra final sobre as mudanças. No
documento de três páginas, o grupo de trabalho lista uma série de princípios
gerais. Entre as regras previstas está a obrigatoriedade de uma segunda opinião
médica para que o usuário tenha acesso a procedimentos considerados de alta
complexidade. O grupo diz que a medida pode evitar desperdícios. A mudança,
porém, vai aumentar o tempo de espera para que o usuário do plano de saúde
tenha acesso ao procedimento. Principalmente se combinada com uma outra
sugestão do grupo, que afrouxa as regras dos prazos de atendimento. A sugestão
é a de que consultas de especialidades que não sejam pediatria, cirurgia geral,
clínica médica, ginecologia e obstetrícia possam ser marcadas em até 30 dias
depois da procura do paciente. Atualmente, o prazo é de 14 dias. O limite para
acesso a cirurgias programadas também mais do que dobra. Em vez dos 21 dias da
regra atual, operadoras teriam até 45 dias para providenciar um profissional.
Além da maior dificuldade para o acesso, as regras restringem a lista de
terapias e métodos de diagnóstico a que o usuário teria direito. Em vez do rol
de procedimentos obrigatórios, formulado pela ANS, os usuários de planos de
saúde teriam direito a tratamentos e terapias descritos em protocolos idênticos
aos adotados no Sistema Único de Saúde (SUS). Para o grupo de trabalho, a
restrição garantiria "a segurança do paciente, orientando e uniformizando
as condutas durante o atendimento". A sugestão prevê ainda que o usuário
arque com, pelo menos, 50% do valor do procedimento, seja ele terapia ou exame
de diagnóstico. O grupo afirma que, para isso, é preciso haver mudanças nas
regras da ANS. A proposta prevê ainda que planos de saúde acessíveis tenham uma
lógica de reajuste distinta dos demais planos. Atualmente, planos de saúde
individuais são reajustados com base em uma média de preços cobrados nos planos
de saúde coletivos. O texto enviado pelo grupo à ANS defende que o reajuste
seja feito com base em uma planilha de custo. Pela proposta, seria obrigatória
a criação de uma rede hierarquizada, com acesso inicial à rede por meio de um
médico de família ou de atenção primária. Caberia a esse profissional fazer o
acompanhamento e os encaminhamentos necessários para profissionais
especializados. Haveria ainda planos regionalizados, com cobertura adaptada à
disponibilidade de infraestrutura no município. Pela proposta haveria três
tipos de planos: o simplificado, com cobertura específica para atenção primária
e serviços de baixa e média complexidade. Usuários que fizerem a adesão a esse
tipo de plano não teriam direito a internação, terapias, exames de alta
complexidade, atendimento de urgência e emergência. A segunda modalidade
prevista é de plano ambulatorial combinado com plano hospitalar. Nesse formato,
usuário teria acesso a atenção primária, especializada, de média e alta
complexidade. Antes de ter acesso a um atendimento especializado, no entanto, o
paciente teria de passar obrigatoriamente por uma avaliação de um médico de
família ou de atenção primária. O acesso aos serviços especializados, no
entanto, seria feito de acordo com a disponibilidade da infraestrutura do
município. No plano misto de pagamento, o terceiro formato, o serviço seria
feito de uma contraprestação do usuário. O consumidor ficaria responsável pelo
pagamento de valores previstos em contrato. O Ministério da Saúde afirmou, por
meio de nota, não defender as medidas. A iniciativa da criação do grupo, no
entanto, foi feita pela pasta, logo depois de Ricardo Barros assumir o posto de
ministro. Por diversas ocasiões, Barros afirmou ser favorável à ampliação do
setor de saúde suplementar. Um fenômeno que, indiretamente, poderia ajudar a
reduzir a demanda do Sistema Único de Saúde.
por Lígia Formenti | Estadão Conteúdo
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