Especialista diz que educação é chave para evitar crise hídrica no DF
Brasília - Nível de água da Barragem do Descoberto está abaixo da média histórica, - (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil) |
O professor da Universidade de Brasília (UnB) Mario Diniz de Araújo
Neto, especialista em assuntos hídricos, disse que a educação é a chave
para evitar a crise hídrica no Distrito Federal (DF). “Não adianta
multar, aumentar a conta, as pessoas se ajustam. É fundamental começar
com a questão da educação na escola, tanto na rede pública quanto
privada. A criança tem um poder muito grande de sensibilizar os adultos e
será o adulto de amanhã", acrescentou.
Pela primeira vez no DF, começa hoje (17) um sistema de racionamento de água, que vai afetar 1,8 milhão de habitantes. Para o professor, é necessário também sensibilizar a população de usuários sobre como funciona o ciclo hidrológico na região. "A mudança no uso, na compreensão da população sobre a ameaça do uso inadequado da água é o que fará, de fato, a diferença no sistema”.
Entre as medidas anunciadas pelo governo
do Distrito Federal para amenizar e controlar a crise hídrica na região
está o aumento da conta, com a tarifa de contingência sobre o consumo.
Além disso, serão estabelecidas restrições de horários para captação de
água por caminhões-pipa e a divulgação de orientações para
estabelecimentos comerciais, como lava-jato.
De acordo com Neto,
organismos internacionais definem a disponibilidade hídrica segura para o
ser humano de 5 mil metros cúbicos por ano. No Distrito Federal, o
índice chega a 1,5 mil metros cúbicos por ano. “A própria natureza, o
regime das chuvas no DF, já nos coloca esse limite. Essa questão de
racionamento está muito ligada à ocupação e ao uso irregular do solo,
desmatamento, asfaltamento, degradação de nascentes. Tudo isso aliado a
um problema de gestão do governo local”, afirmou.
O professor
citou o uso excessivo de água nos estabelecimentos comerciais para o
agravamento da situação da cidade, aliado ao uso inadequado pelos
moradores. “Os abatedouros de frangos retiram água de poços artesianos.
Em média, se produz 60 mil frangos por ano, cada um desses gastando 15
litros de água na limpeza, por baixo”, diz. “O Lago Sul tem um gasto
médio por habitante de 700 litros/dia, quando o normal é que se gaste
cerca de 150 litros. O indivíduo vai encher piscina, lavar calçada, é um
uso perdulário da água. Nós não vamos conseguir mudar o regime hídrico
da região dessa forma”.
Abastecimento
O
Distrito Federal é abastecido por dois diferentes sistemas: 85% da
população têm água de dois reservatórios, o do Descoberto e o de Santa
Maria, e os outros 15% e parte dos produtores agrícolas recebem
diretamente de, pelo menos, cinco córregos.
O nível do
reservatório da Barragem do Descoberto, abaixo de 20%, e o índice de
chuvas menor do que o esperado em dezembro e janeiro levaram a Agência
Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal
(Adasa-DF) e a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) a adotar o
racionamento.
A medida será em ciclo de seis dias: um dia com
interrupção completa, dois dias de estabilização e três de fornecimento
normal. Na fase de estabilização, a água retorna ao consumidor
gradativamente. Para evitar riscos de rompimentos da tubulação, o fluxo
da água é religado de forma gradual, até o completo preenchimento das
redes. No sétimo dia, o corte de abastecimento é retomado.
As
áreas afetadas serão Águas Claras, Candangolândia, Ceilândia, Gama,
Guará, Núcleo Bandeirante, Park Way, Recanto das Emas, Riacho Fundo 1 e
2, Santa Maria, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires.
Além da
interrupção do fornecimento de água, moradores do DF terão a pressão da
água reduzida, a partir de 30 de janeiro, na região abastecida pelo
reservatório de Santa Maria. De acordo com a Caesb, esse reservatório
está com nível de água em torno de 40%. Estão inseridos nessa área o
Plano Piloto, Cruzeiro, Sudoeste, Octogonal, Lago Sul, Lago Norte,
Paranoá, Varjão, Itapoã e Jardim Botânico.
De acordo com
Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a média do índice
pluviométrico no DF em janeiro é de 225 milímetros (mm). Nos dez
primeiros dias de 2017, foram registrados 19 mm. Segundo a Caesb, a
captação foi reduzida de 5,1 mil litros por segundo para 4,4 mil litros
por segundo com a diminuição da pressão. O rodízio no abastecimento tem o
objetivo de diminuir mais 10% dessa captação para preservar a Barragem
do Descoberto no período de seca.
População
Para
Rayssa Oliveira, moradora de Samambaia, será preciso um preparo para se
acostumar com a medida. “É difícil, pois não estamos acostumados com
essas medidas que estão sendo tomadas. O racionamento influenciará, de
certa forma, a rotina de todos. Teremos que nos preparar para aprender a
lidar com uma quantidade de água mínima durante os nossos dias”, disse.
Ricardo
Vaz, morador de Taguatinga Sul, considera que o desperdício ao longo do
ano é a razão do racionamento. “É difícil imaginar que em uma época de
chuva, temos que racionar água. Isso, provavelmente, acontece porque a
água é frequentemente desperdiçada ao longo do ano. Sempre tive
consciência do uso e reaproveitamento da água, então, é mais fácil estar
preparado para isso”.
Vaz disse ainda que depende da consciência
de outros para que isso não afete sua rotina. “Moro em apartamento, e a
água da caixa é compartilhada. O que me preocupa não é o que eu
gastarei, mas o que os outros inquilinos gastarão. Isso pode atrapalhar o
funcionamento do prédio como um todo. Precisamos de água pelo menos
para o básico (beber, cozinhar, tomar banho) e, se der, para lavar
roupa”.
Aline Melo, moradora de Samambaia Sul, lembrou que é
preciso maior controle quando se tem crianças. “Acredito que estou
preparada para essa realidade. Sempre fomos conscientes em casa, mas com
crianças é mais difícil controlar”.
(Fonte: Agência Brasil)
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