Entidade que representa policiais recomenda cancelar festa de Réveillon
“A carta não é contra o governo, é simplesmente para garantir a segurança das pessoas”, diz coronel (Foto: EBC) |
Três dias antes da festa de Réveillon que deve reunir 2 milhões de
pessoas na praia de Copacabana, na zona sul do Rio, uma entidade que
representa os policiais militares e bombeiros do Estado do Rio divulgou
nesta quarta-feira (28) carta aberta em que recomenda à Prefeitura do
Rio que cancele esse evento e as outras nove festas organizadas pelo
município para comemorar a chegada de 2017.
“Antevendo a possibilidade da ocorrência de manifestações que, pela
amplitude e quantidade de pessoas envolvidas, poderão tomar proporções
violentas e atentatórias à integridade da população presente ao evento”,
a Associação de Oficiais Militares Ativos e Inativos da Polícia Militar
e do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro (Aomai) “recomenda o
cancelamento dos shows artísticos e pirotécnicos no município do Rio”,
diz a carta, assinada pelo presidente da entidade, Adalberto de Souza
Rabelo.
Para justificar a recomendação, a entidade - que reúne cerca de 200
oficiais, entre policiais militares e bombeiros - também cita “a grave
crise política e financeira” do Estado do Rio e afirma que essa crise
tem causado “sérios prejuízos financeiros aos servidores públicos e
militares, inativos e pensionistas” e que “tal situação se arrasta há um
ano e tem gerado inúmeros protestos contra a administração estadual,
com reflexos na segurança pública”. Segundo a entidade, “a possibilidade
de ocorrência desses protestos durante os festejos do Réveillon” pode
ter “dimensão e alcance incalculáveis”, hipótese “factível (...) pelas
ocorrências verificadas anteriormente antes e durante a Copa do Mundo de
2014 e a Olimpíada de 2016”.
Ao encerrar a carta, a entidade afirma que faz a recomendação baseada
“na prevenção e no dever de ofício, axiomas da polícia ostensiva e de
preservação da ordem pública”.
Além do prefeito Eduardo Paes (PMDB), a carta também é destinada ao
governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), aos comandantes da
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado, à população e à
imprensa.
“A
carta não é contra o governo, é simplesmente para garantir a segurança
das pessoas”, afirma o coronel reformado da PM Paulo Ricardo Paul, que
integra o conselho fiscal da entidade. “Muitos servidores públicos estão
sem salário, em situação de desespero. E pessoas desesperadas tendem a
adotar soluções desesperadas. Como a Guarda Municipal e a PM vão impedir
que alguém jogue um rojão no meio da multidão?”, questiona Paul. “Tem
muita gente insatisfeita. A prefeitura vai gastar cerca de R$ 5 milhões
com esse evento, e se emprestasse esse dinheiro ao Estado permitiria o
pagamento de muitos servidores que estão sem condições até mesmo para
comprar comida”, afirma. “Se o evento for mantido, torcemos para que não
haja nenhum tumulto, mas é inegável que essa é a fórmula para dar
alguma coisa errada”, conclui o coronel reformado.
A Prefeitura do Rio informou que não vai se pronunciar sobre a recomendação da Aomai.
A festa em Copacabana terá shows musicais a partir das 18 horas de
sábado (31), com atrações como Léo Jaime, Alceu Valença, Elba Ramalho e
Geraldo Azevedo, e um show de fogos de artifício com duração de 12
minutos, a partir da meia-noite do dia 31. A Prefeitura gastou cerca de
R$ 5 milhões com o evento. Também haverá comemoração organizada pelo
município em outros nove locais, entre eles a Barra da Tijuca (zona
oeste) e o Parque Madureira (zona norte). (AE)
Comentários