Atuação de juiz na interpretação da lei não deve representar crime, diz Sérgio Moro
A atuação do juiz na
interpretação da lei e na avaliação de fatos e provas não deve
representar crime, disse nesta quinta-feira (1) o juiz federal Sérgio
Moro, em sessão temática sobre o Projeto de Lei do Senado (PLS) 280/2016,
que regulamenta casos de abuso de autoridade. Ele disse ainda que este
talvez não seja o melhor momento para o Senado deliberar sobre uma nova
legislação a respeito do tema, num contexto em que o Brasil vive
operações importantes como a Lava Jato.
— Faço essa sugestão com extrema
humildade. Não me cabe aqui censurar o Senado, mas acredito que talvez
não seja o melhor momento, e o Senado pode passar uma mensagem errada à
sociedade. Talvez uma nova lei poderia ser interpretada com o efeito
prático de tolher investigações — afirmou o juiz.
Para Sérgio Moro, a sociedade
brasileira está ansiosa pelo que vem sendo revelado pelo trabalho da
Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário e espera pelo
enfrentamento efetivo da criminalidade.
Hermenêutica
Ao entrar no mérito do projeto, Moro
afirmou que qualquer lei que reduza desvios de conduta é bem-vinda, mas
há que se ter cuidado para que, a pretexto de se coibir o abuso, a norma
não tenha um efeito prático de cercear o trabalho dos agentes da lei.
— Não importa a intenção do legislador.
Diz um ditado que a lei tem suas próprias pernas. Ainda que tenha boas
intenções, como será interpretada e aplicada é uma questão em aberto —
advertiu.
O juiz apresentou ao Senado uma
sugestão para limitar a possibilidade do chamado crime de hermenêutica,
de modo a evitar que seja configurada crime a divergência na
interpretação da Lei Penal e da Lei Processual Penal e na avaliação de
fatos e provas.
— Com isso parte do receio de uma aplicação equivocada desse projeto pode ser evitada.
Emendas da meia-noite
O magistrado comentou também a
aprovação pela Câmara dos Deputados de uma emenda incluindo o abuso de
autoridade no pacote anticorrupção contido no PL 4.850/2016 (numeração na Câmara). A votação foi feita na madrugada de quarta-feira (30).
— Essas emendas da meia-noite, que não
permitem uma avaliação por parte da sociedade não são apropriadas em se
tratando de tema são sensível — afirmou Moro, que elogiou o Senado por
estar abordando o tema com "abertura e transparência".
As sessões temáticas foram instituídas
no Senado para permitir debates mais aprofundados de grandes temas
nacionais, sem as limitações tempo impostas pelo Regimento Interno.
Outras questões como mudanças na Petrobras, terceirização e limitação
dos gastos públicos também já foram alvo de discussões.
(Fonte da Agência Senado)
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