Após deixar presidência do Senado em fevereiro, Renan terá aliados em comissões
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil |
Renan Calheiros (PMDB-AL) deixará a presidência do Senado em fevereiro
do próximo ano, mas permanecerá no epicentro do poder da Casa. Com o
intuito de se blindar contra o aprofundamento dos processos que enfrenta
no Supremo Tribunal Federal (STF), o peemedebista não voltaráà condição
de um senador comum. Ele pretende articular seus pares para indicar os
aliados mais fiéis para a composição da Mesa Diretora e das principais
comissões da Casa. Sem a blindagem do cargo de presidente, Renan vai
assumir a liderança do PMDB e confiar a seus aliados postos-chave. O
enredo será semelhante ao seguido no início de 2015, quando foi
reconduzido ao comando do Senado. À época, ele bancou a montagem de uma
Mesa leal que pôs o PSDB longe do poder e da divisão de cargos. O
resultado de sua estratégia pôde ser visto neste mês - seu grupo
endossou o desacato à decisão liminar do ministro Marco Aurélio Mello,
do STF, que o afastava da presidência do Senado. Renan chega a 2017,
porém, com algumas desvantagens. Além de perder a prerrogativa de
presidente do Congresso Nacional, o que lhe assegura decisões em favor
próprio, passou de investigado a réu no Supremo, acusado por crime de
peculato no caso de suposto pagamento de contas por uma empreiteira em
um relacionamento extraconjugal. Além disso, Renan foi denunciado na
Lava Jato e responde a 12 processos no STF. Agora o PSDB ganhou espaço
no governo Michel Temer - antes era oposição da presidente cassada Dilma
Rousseff - e terão suas vagas na Mesa e em comissões. Renan, contudo,
já costura a participação de tucanos de perfil mais conciliador. Os
aliados de Renan deverão assumir a presidência da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ), principal órgão colegiado da Casa, além do
Conselho de Ética, para onde são enviados processos de suspensão e
cassação de mandatos. Hoje, os cargos são ocupados, respectivamente, por
José Maranhão (PMDB-PB) e João Alberto Souza (PMDB-MA) - senadores
próximos tanto de Renan quanto de José Sarney. A ideia é manter nas
funções aliados cumpridores de ordem. De posse da liderança do PMDB,
Renan ficará responsável pela indicação da maior parte dos membros de
seu partido às comissões da Casa. Ele ainda deterá força de barganha com
os demais senadores da bancada. Renan também trabalha para aparelhar
cargos cruciais da estrutura do Senado e que não são ocupados por
parlamentares, como a Advocacia-Geral do Senado, a Secretaria-Geral da
Mesa e a Polícia Legislativa. O advogado-geral é o responsável, por
exemplo, pela elaboração de pareceres que o Senado envia ao Supremo.
Atualmente, o cargo é ocupado por Alberto Cascais, chefe de gabinete de
Renan. A maior dificuldade estaria em pactuar todas essas indicações com
Eunício Oliveira (PMDB-CE), principal candidato à presidência do
Senado. De acordo com interlocutores do PMDB, Eunício estaria disposto a
abrir mão de indicações na Mesa Diretora para não criar disputas
internas no partido nem dificultar sua própria indicação. Entretanto,
ele gostaria de colocar seus aliados na Advocacia-Geral e na
Secretaria-Geral. À semelhança de como agiu nos últimos anos,
parlamentares acreditam que a atuação de Renan fora da presidência do
Senado deve ser alinhada com o governo - independentemente de quem
esteja no comando. Durante o impeachment, Renan defendeu até onde pôde a
ex-presidente Dilma Rousseff, com uma cartada final que permitiu que,
mesmo afastada, a petista pudesse ocupar cargos públicos. Rapidamente,
migrou para o governo Temer e defendeu a agenda do Planalto, tendo papel
decisivo na manobra que permitiu a contagem do prazo e a manutenção do
calendário para aprovação da PEC do Teto.
por Isabela Bonfim | Estadão Conteúdo
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