Fundador do PSC pede a Lava Jato que investigue pastor Everaldo, ex-candidato a presidente
Foto: André Duseck/ Estadão |
Enquanto partidos tentam articular uma brecha para anistiar o caixa 2,
em meio aos avanços da Lava Jato com delações que devem atingir as
principais siglas do País, um dos fundadores do Partido Social Cristão
(PSC), Vitor Abdala Nósseis, denunciou o candidato de sua própria
agremiação à Presidência em 2014, pastor Everaldo. Em petição ao juiz
federal Sérgio Moro, em Curitiba, Nósseis pediu que a força-tarefa da
Lava Jato investigue o pastor e o secretário-geral do PSC, Antônio
Oliboni.
Na denúncia, Nósseis pede ainda ao juiz da Lava Jato que bloqueie os
bens de Everaldo e Oliboni. Segundo ele, o pastor e o secretário-geral
do partido receberam ''vultosas quantias de dinheiro'' de empresas
investigadas na operação ''com indício de prática de crime de lavagem de
capitais e organização criminosa''.
Como ''provas'' das suspeitas levantadas contra seus
correligionários, Nósseis anexou à denúncia comprovantes de doações
registradas na Justiça Eleitoral ao PSC e ao candidato à Presidência
pela sigla em 2014.
Uma das linhas de investigação da Lava Jato é de que as doações
oficiais eram uma forma de lavar dinheiro de corrupção para as siglas e
os candidatos.
A tese é uma das maiores preocupações dos partidos atualmente com o
avanço da operação. Até agora nenhum representante partidário havia
afirmado que as doações recebidas pela sigla eram propinas do esquema de
corrupção na Petrobras.
Para o fundador do PSC, seus correligionários receberam ''vultosas quantias em dinheiro oriundo do esquema criminoso''.
"Verifica-se que esses repasses eram periódicos e aconteciam à medida
que o esquema criminoso se desenvolvia, confiantes na impunidade,
protegidos por parlamentares e membros do Executivo, mentores de todo o
esquema criminoso", segue a denúncia.
Desentendimento
A denúncia encaminhada para a sede da Lava Jato, em Curitiba, não é o
primeiro episódio em que Nósseis, que presidiu o PSC por 30 anos, acusa
seus correligionários na Justiça por supostas irregularidades.
Na convenção do PSC realizada em 17 de julho do ano passado, ele foi
destituído do cargo de presidente nacional da legenda. Inconformado com o
resultado ele está questionando a convenção - que classifica como
''fraudulenta'' - na Justiça.
Até o momento, seus questionamentos não obtiveram sucesso.
Em manifestação a Moro na quinta-feira, 3, a força-tarefa da Lava
Jato pediu indeferimento da solicitação de Nósseis, que pediu para ser
cadastrado aos autos do processo.
Segundo os procuradores da República que integram a força-tarefa, o
fundador do PSC não atende aos ''requisitos mínimos'' para ser
cadastrado nas investigações penais da Lava Jato.
"É possível verificar que, embora os fatos narrados possam se inserir
no âmbito do esquema criminoso investigado na Operação Lava Jato, eles
não se relacionam diretamente com o objeto dos autos a que o
peticionário requereu habilitação. Os representados Everaldo Dias
Pereira e Antônio Oliboni não são partes e não trabalharam para as
empresas investigadas nos autos em consideração, não apresentando, em
uma análise prévia, conexão com os fatos que fundamentam as
investigações neles promovidas, o que demonstra que, efetivamente, não
existe interesse do requerente em ser habilitado aos autos", assinalam
os procuradores da Lava Jato.
Os investigadores informaram ainda a Moro que também receberam a denúncia feita por Nósseis e que ainda vão analisar o caso.
Defesa
Em nota, o departamento jurídico do Partido Social Cristão (PSC) esclarece que:
"Vitor Nósseis foi presidente do PSC durante 30 anos, desde a sua
fundação em 1985 até 2015. Em um processo democrático de alternância de
poder, ocorrido durante convenção partidária legítima, Nósseis foi
sucedido por Everaldo Dias Pereira na presidência do PSC, eleito por
unanimidade, no dia 17 de julho de 2015.
Nósseis passou, então, a ocupar o cargo de Presidente de Honra do PSC
- também ficou responsável pelo desenvolvimento dos trabalhos da
Fundação Pedro Aleixo, onde está até os dias de hoje como
vice-presidente. Tudo está registrado em ata notarial (lavrada no 1º
Ofício de Notas e Protestos de Brasília-DF, Livro 0007-AN, fl. 081).
Ocorre que Nósseis não aceitou a sucessão. Inconformado em ter perdido a
presidência nacional do PSC, vem proferindo uma série de ataques
infundados ao presidente nacional do PSC, Everaldo Dias, e ao seu
secretário Geral, Antonio Oliboni. Nósseis impetrou ação na 25ª Vara
Civil de Brasília (processo nº 2015.01.1.111705-0), contestando a
legitimidade da Convenção e perdeu. Ele também informou ao MP de
Fundações de Belo Horizonte sobre essa suposta denúncia agora feita ao
juiz Sergio Moro. Porém mais uma vez não obteve sucesso - o promotor
entendeu que os fatos não são da competência daquela Promotoria de
Justiça Especializada. O PSC lamenta que a Operação Lava Jato, a maior
operação de combate à corrupção já realizada no país, esteja sendo usada
como objeto de disputa pessoal por um dos seus quadros."(AE)
Fonte: Diário do Poder
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