Dallagnol classifica decisão da Câmara como "começo do fim da Lava Jato"
O procurador da República, Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa
da Lava Jato, fez uma contundente manifestação contra um novo projeto
anticorrupção aprovado durante a madrugada desta quarta-feira, 30.
"A Câmara sinalizou o começou do fim da Lava Jato", afirmou Deltan.
"Não será possível trabalhar na Lava Jato se a lei da intimidação for
aprovada."
O Ministério Público Federal encampou a proposta "10 Medidas contra a
Corrupção", que teve apoio de mais de 2 milhões de pessoas e foi levado
à Câmara. O texto embasou um projeto anticorrupção que passou pela
Comissão Especial da Casa e entrou em votação pelo plenário na noite
desta terça-feira.
Durante a madrugada, os deputados desconfiguraram a proposta inicial e
votaram um novo pacote que flexibiliza punição a corruptos. O projeto
provocou fortes protestos de diversas entidades.
Pelo menos 11 mudanças foram feitas no texto do projeto de medidas de
combate à corrupção que tinha sido aprovado na comissão especial, na
semana passada. Descontentes com o parecer do relator, deputado Onyx
Lorenzoni (DEM-RS), parlamentares aprovaram emendas e destaques que
incluíram novos temas e, sobretudo, retiraram trechos do pacote que
dificultam investigações e flexibilizam a punição de corruptos.
Entre as mudanças aprovadas está a inclusão do crime de abuso de
autoridades para magistrados e membros do Ministério Público, emenda
apresentada pela bancada do PDT, e duramente criticada pelos membros do
Judiciário. A pena é de 6 meses a 2 anos de reclusão e multa.
O coordenador da força-tarefa criticou a aprovação. "Como se não
fosse suficiente foi aprovada a lei da intimidação contra o Ministério
Público e o Poder Judiciário sob o maligno disfarce de crime de abuso de
autoridade. Abusos devem sim ser punidos. Contudo, sob esse disfarce de
crimes de abuso há verdadeiros atentados contra independência do
exercício legítimo da atividade ministerial e judicial. A lei da
intimidação avançada no Congresso faz do exercício da função do
Ministério Público e do Judiciário uma atividade de altíssimo risco
pessoal."
AS MUDANÇAS APROVADAS NO PLENÁRIO:
Abuso de autoridade: Inclusão do crime de abuso de autoridades para
magistrados e membros do MP - emenda apresentada pela bancada do PDT.
Pena: 6 meses a 2 anos de reclusão e multa.
Punição para violação de prerrogativas: Inclusão de punição a
policiais, juízes e membros do MP que violarem direito ou prerrogativa
de advogados - emenda apresentada pelo deputado Carlos Marun (PMDB-MS), a
pedido da OAB.
Pena: 1 a 2 anos de detenção e multa.
Reportante do bem: Retirada a instituição do "reportante do bem":
figura cuja denúncia a órgãos da Justiça ou à imprensa acarretasse
imposição de penalidades poderia receber até 20% dos valores recuperados
- destaque apresentado pela bancada do PSB.
Ação de extinção de domínio: Retirado todo o trecho que regulava a
apresentação das chamadas "ação de extinção de domínio", cuja finalidade
é decretar a extinção dos direitos de propriedade e posse e de outros
direitos - destaque apresentado pela bancada do PR.
Progressão de pena: Retirado artigo que previa que condenado por
crime contra administração pública só teria direito a progressão do
regime de cumprimento de pena quando reparasse o dano causado ou
devolvesse os recursos produtos do ato ilícito praticado - destaque
apresentado pela bancada do PT.
Prescrição da pena: Retirados quatro artigos que endureciam as regras
de prescrição de crimes, como a que estabelecia que o prazo de
transcrição só começaria a ser contado após o ressarcimento integral do
dano - emenda apresentada pela bancada do PT.
Enriquecimento ilícito: Retirado tipificação do crime de
enriquecimento ilícito para funcionários públicos - destaque apresentado
pelo bloco PP, PTB e PSC.
Acordo penal: Retirada possibilidade de Ministério Público e
denunciado celebrarem acordo para aplicação imediata da pena antes da
sentença judicial - destaque apresentado pela bancada do PSOL.
Acordo de leniência: Retirado trecho que previa que Ministério
Público poderia celebrar acordo de leniência - destaque apresentado pela
bancada do PT.
Responsabilização de partidos: Retirada da previsão de pena de
suspensão do funcionamento dos partidos e da filiação do dirigente
partidário responsável por crime de caixa 2 - destaque apresentado pelo
bloco PP, PTB e PSC
Lei dos Partidos: Retirada de trecho que revogava artigo da Lei dos
Partidos que estabelece que a responsabilização pessoal, civil e
criminal de dirigentes partidários em razão da desaprovação de contas e
atos ilícitos atribuídos ao partido só ocorre se a Justiça verificar
irregularidade "grave e insanável". Dessa forma, o artigo permanecerá na
Lei dos Partidos - destaque apresentado pela bancada do PR.
MUDANÇAS QUE TINHAM SIDO APROVADAS NA COMISSÃO
Caixa 2: Inclui punição a quem praticar caixa 2 em nome do candidato
ou do partido, como tesoureiros de campanha ou das legendas;
- Reduziu multa a partidos para de 5% a 20% do valor de repasse da
cota do fundo partidário referente ao ano em que o ato lesivo ocorreu.
MPF queria multa de 10% a 40%.
- Em caso de agravante, pena de 2 a 5 anos para caixa 2 será elevada em um terço, e não mais dobrada, como previsto.
Venda de voto: Tornou mais explícito que o eleitor que vender o voto também será responsabilizado, com pena de um a quatro anos.
Reportante do bem: Criou a figura do reportante: figura cuja denúncia
a órgãos da Justiça ou à imprensa acarretar imposição de penalidades,
poderá receber até 20% dos valores recuperados.
Crime de corrupção: Torna crime hediondo crimes de corrupção contra
administração pública apenas quando o valor da vantagem for superior a
10 mil salários mínimos. Parecer anterior mencionava 100 salários
mínimos.
Embargos declaratórios: Embargos declaratórios só poderão ser
apresentados uma única vez e deverão ser respondido em um prazo de até 5
dias pela Justiça.
Ação Popular: Reincorporou normas para atualização da Lei da Ação Popular.
Prova ilícita: Deixa claro que provas ilícitas não poderão ser aceitas em processo.
Habeas Corpus: Retirou medidas que restringiam a concessão de habeas
corpus; manteve apenas trecho que diz que juiz deverá "cientificar" MP e
defesa para se manifestar sobre habeas corpus, caso instrumento tenha
efeitos na investigação criminal ou processo penal.
Teste de integridade: Retirado por destaque apresentado pelo PT.
Prisão preventiva: Rejeitada proposta que permitia prisão preventiva
com finalidade de permitir identificação, localização e devolução do
produto do crime.
Cooperação internacional: Retirou artigos que regulavam cooperação
jurídica internacional entre a Justiça brasileira e de outros países.
(Fonte: Diário do Poder)
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