Barroso: 'Nós nos descobrimos uma República de bananas'
Foto: Carlos Humberto/SCO/STF |
O Brasil como uma "república de bananas devastada pela desonestidade e
pela incorreção" foi o cenário descrito por Luís Roberto Barroso,
ministro do Supremo Tribunal Federal, em um discurso ácido na abertura
de um seminário na Sede da Procuradoria-Geral da República. Barroso
demonstrou preocupação com movimentos políticos para frear investigações
da Justiça e suavizar leis que podem punir a corrupção. "Há militantes
em toda parte no abafa", afirmou o ministro. "Sei que há muito choro e
ranger de dentes, mas é porque nós estamos mudando o País", disse. Ele
se referia às revelações de escândalos de corrupção e as prisões de
agentes públicos e privados desde a Ação Penal 470 e atualmente com a
Operação Lava Jato. Segundo ele, esses foram "marcos da mudança de
atitude" em relação à corrupção. "Não deixam de ser uma 'Proclamação da
República' para dizer que o direito vale para todos", disse. Barroso
afirmou que a "corrupção não tem partido, ideologia; é um mal em si e
não deve ser politizada". "Há uma certa mentalidade se disseminando de
que o problema é a corrupção dos outros, e que agora, que já me livrei
da corrupção dos de quem eu não gosto, nós vamos fazer uma composição
geral", disse. "Não dá para achar que a corrupção dos outros é grave e
daqueles que eu gosto não tem problema. Aí não é combate à corrupção,
mas reserva de mercado", afirmou o ministro. Barroso disse que "a
ausência de direito penal efetivo criou um país cheio de ricos e
delinquentes". E em momento em que se discute, no Senado, o abuso de
autoridade, o ministro defendeu o aprimoramento do sistema penal
acusatório. "Ninguém, nem o Supremo nem o Ministério Público, deseja o
estado policial. Desejamos um estado democrático, com o devido processo
legal, amplo direito de defesa. O que não desejamos é um processo de faz
de conta que não termina nunca e é feito para não terminar, para que o
crime compense", afirmou. Na cobrança por "moralização da Justiça",
incluiu também os advogados. Afirmou que há "advogados de primeira linha
interpondo recursos descabidos atrás de recursos descabidos", a fim
meramente de atrasar os processos. O momento do Brasil é de inflexão,
nas palavras de Barroso. Ele utilizou uma cena do filme Match Point, de
Woody Allen, para ilustrar. "Há uma cena no início do filme em que a
bola bate na rede e não se sabe onde ela vai cair, e isso vai ser
decisivo no final. A bola pode cair do lado em que podemos fazer um novo
país, ou no lado em que sempre foi".
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