Propina milionária pedida por desembargadores baianos foi denunciada por família extorquida
Polícia Rodoviária Federal cumpre mandados pedidos pelo MP-BA
(Foto: Divulgação/PRF Bahia)
(Foto: Divulgação/PRF Bahia)
O pedido de propina feito por dois
desembargadores do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), para julgar
ação iniciada em vara cível de Salvador, foi denunciado pela própria
família que deveria efetuar o pagamento. A informação é do Ministério
Público da Bahia (MP-BA), que, a partir da denúncia, iniciou
investigação contra os magistrados em fevereiro deste ano.
A
propina, exigida desde 2012 para acelerar o julgamento do caso e
proferir decisão favorável, previa um pagamento de 5% do valor da ação
para cada desembargador, hoje aposentados. A estimativa do MP-BA é que a
família recebesse o pagamento de R$ 500 milhões, podendo chegar a R$ 1
bilhão. Os magistrados, então, receberiam de R$ 25 a R$ 50 milhões cada
um.
"Uma
desembargadora era a relatora desse caso. O outro desembargador não
atuava nessa demanda judicial. Mas, dada a proximidade dele com a
relatora, serviu de ponte para que pudesse ser feita a solicitação da
vantagem ilícita", explica o promotor de Justiça Luciano Taques, que
chefiou a investigação.
Ainda
conforme Taques, a propina perdeu a validade porque a ação foi
recursada em uma corte superior. "Contrariamente à vontade deles (os
desembargadores), essa causa acabou sendo objeto de um outro recurso
junto ao STJ (Supremo Tribunal de Justiça). Todavia, o não pagamento não
deixa de configurara o ilícito".
Operação Leopoldo
As
investigações culminaram em cinco conduções coercitivas na manhã desta
terça-feira (4), para colher depoimentos dos ex-desembargadores e de
três advogados envolvidos. Os cinco negaram as acusações. A Operação
Leopoldo também cumpriu quatro mandados de busca e apreensão nas casas
dos investigados, nos bairros da Pituba, Stiep, Campo Grande e Encontro
das Águas, este último em Lauro de Freitas.
"Um
dos advogados foi o intermediário entre os interessados no julgamento
da causa e os ex-desembargadores. Os outros dois cederam os seus nomes
para que fossem feitos contratos de honorários com o objetivo de
garantir o pagamento do valor da propina", revela Luciano Taques,
adicionando que dois dos advogados são parentes do ex-magistrado.
Os
nomes dos investigados pela Operação Leopoldo não foram revelados pelo
MP-BA, assim como o nome das partes do processo judicial. Após o fim da
investigação, que deve ocorrer em um ou dois meses, eles serão alvos de
uma ação penal e seus nomes, divulgados.
"A
partir de agora vai ser feita a análise de todo o material apreendido
para que a gente possa não apenas corroborar os indícios já colhidos,
que demonstram a prática desse crime, como verificar a possível
ocorrência de outros crimes envolvendo os investigados", afirma Luciano
Taques. Os cinco serão acusados por corrupção passiva, cuja pena
prevista é de 12 anos de prisão.
Entenda o casoA
partir de um processo de inventário, a família verificou que o falecido
tinha títulos de crédito de um banco falido, que sofreu aquisição de um
dos grandes bancos brasileiros. Ainda na década de 1990, a família
entrou na justiça para reaver o valor e, após uma série de recursos, o
caso chegou ao TJ-BA, já na década corrente.
O
TJ-BA, a partir da relatoria da magistrada investigada pelo MP,
proferiu ação favorável ao banco. A família interessada entrou com novo
recurso, alegando que outros processos semelhantes contra o mesmo banco
tiveram resultados favoráveis aos credores. O caso ficou parado por
alguns anos.
"As
pessoas interessadas no julgamento dessa causa buscaram contato com os
desembargadores que poderiam de alguma forma fazer com que o processo
tivesse andamento e receberam desses desembargadores a solicitação de
uma vantagem indevida, ou seja, eles cobraram uma propina pra poder
julgar essa causa", conta Luciano Taques.
Taques
explica ainda porque o valor da ação é tão alto, entre R$ 500 mi e R$ 1
bi. "Eram aqueles títulos muito antigos, cuja atualização monetária e
correção em juros levam a valores estratosféricos".
(Fonte: www.correio24horas.com.br)
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