Ana Júlia, de 16 anos, explica a deputados no Paraná o que são as ocupações
Um discurso de pouco mais de 10 minutos feito na quarta-feira (26), na
Assembleia Legislativa do Paraná, por uma adolescente de 16 anos, sobre o
movimento de ocupação das escolas, tem repercutido nas redes sociais e
causado comoção. Na fala, a aluna Ana Júlia afirma que as mãos dos
deputados estão “sujas” com o sangue do adolescente Lucas Mota,
assassinado durante a ocupação de uma escola estadual em Curitiba,
capital do estado. A estudante questiona críticas feitas ao movimento e
afirma que o ato possui “legitimidade” e “legalidade”. A aluna, então,
questionou a quem pertence a escola. “É um insulto a nós que estamos lá,
nos dedicando, procurando motivação todos os dias, a sermos chamados de
doutrinados. É um insulto aos estudantes, é um insulto aos professores.
A nossa única bandeira é a educação. Somos um movimento apartidário,
dos estudantes pelos estudantes. A nossa dificuldade em conseguir formar
um pensamento é muito maior do que a de vocês. Nós temos que ver tudo o
que a mídia nos passa, fazer um processo de compreensão, de seleção,
para daí conseguir ver do que a gente vai ser a favor e do que a gente
vai ser contra”, criticou. Ana Júlia disse, ainda, que Lucas Mota não é a
única vítima do assassinato ocorrido na ocupação. “Vocês estão aqui
representando o Estado, e eu convido vocês a olharem a mão de vocês. A
mão de vocês está suja com o sangue do Lucas. Não só do Lucas, mas de
todos os adolescentes e estudantes que são vítimas disso”. Neste
momento, o presidente da Assembleia, deputado Ademar Traiano (PSDB),
interrompeu o discurso e ameaçou encerrar a sessão. “Aqui você não pode
agredir o parlamentar. Aqui ninguém está com as mãos manchadas de
sangue, não. Eu, como presidente, exerço a minha autoridade.
Democraticamente, permiti que vocês viessem aqui e não vou permitir que
ninguém será afrontado”, disse. A aluna, então, rebateu. "Peço
desculpas, mas o Eca [Estatuto da Criança e do Adolescente] nos diz que a
responsabilidade pelos nossos adolescentes, nossos estudantes é da
sociedade, da família e do estado", ponderou, sendo aplaudida.
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