PMDB age para esvaziar votação do caso Cunha; sessão está prevista para setembro
Foto: Lula Marques / Agência PT
A bancada do PMDB na Câmara se articula para esvaziar a sessão do
dia 12 de setembro que analisará o pedido de cassação do deputado
afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A data da votação foi confirmada na
quinta-feira, 11, pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O
movimento começa a influenciar bancadas de outros partidos da base
aliada, principalmente do Centrão - grupo de siglas liderado por PP, PSD
e PTB e que apoia o peemedebista. Em algumas dessas bancadas, deputados
já admitem que podem seguir o exemplo do partido de
Cunha. Parlamentares do PMDB avaliam que mais da metade dos 66 membros
da legenda na Câmara pode faltar à votação. "Há um movimento grande para
o pessoal se ausentar no dia da votação", diz um influente deputado do
partido. A desculpa oficial será a necessidade de ficar próximo à base
eleitoral por causa da campanha municipal. Peemedebistas têm evitado
comentar publicamente o assunto. Nos bastidores, relatam desconforto de
votar contra um correligionário. A avaliação é de que, com a pressão da
opinião pública e a proximidade das eleições, seria difícil comparecer à
sessão e votar a favor de Cunha. No PMDB, há também deputados que
relatam pressão do ex-presidente da Câmara para faltar ou votar a seu
favor. Segundo relatos dos parlamentares, não houve pressão do Palácio
do Planalto como tampouco houve, de acordo com eles, na análise do
recurso de Cunha na Comissão de Constituição e Justiça. Na ocasião, dos
10 peemedebistas, 5 votaram contra e 5 a favor do recurso, que acabou
rejeitado por 48 a 12. Entre os deputados do PMDB que dizem pretender
comparecer, a previsão é de que a maioria votará a favor da cassação de
Cunha. Por enquanto, porém, são poucos os que afirmam abertamente isso,
como Jarbas Vasconcelos (PE) e Vitor Valim (CE). "Já tomei minha
decisão, mas ainda não é o momento de torná-la pública", diz o deputado
Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). Para ele, a Câmara tem de trabalhar para
que a votação seja a mais isenta possível. "Vamos julgar um de nossos
pares, tem de ter cuidado", afirma. O movimento de esvaziamento no PMDB
já anima deputados do PP e de outras siglas menores que não querem
votar contra Cunha a também faltar à sessão. O argumento é de que o
exemplo do próprio partido do deputado afastado diminui a cobrança sobre
eles. Partidos declaradamente favoráveis à cassação de Cunha minimizam o
efeito dessa articulação para esvaziar a votação. "O dia que marcar vai
ter 500 deputados. Quem vai ter coragem de faltar com a pressão pública
e em plena campanha eleitoral?", diz o líder do PPS, Rubens Bueno
(PR). O presidente da Câmara já afirmou que só prosseguirá a votação
caso haja pelo menos 400 deputados presentes. Do contrário, cancelará a
sessão e marcará uma nova data, até conseguir o quórum. Maia teme que
uma eventual salvação de Cunha manche sua biografia. Para deputados da
oposição, a data escolhida por Maia tem ares de "armação". "Julgamento
de Cunha para 12 de setembro cheira a armação. Dia 12 é uma
segunda-feira, quando nem os governos com interesse em matérias
conseguem quórum", diz Chico Alencar (PSOL-RJ). Para o parlamentar, a
desculpa do plenário esvaziado será a "senha" para o presidente da
Câmara dispensar os parlamentares e só votar a cassação de Cunha após as
eleições, como defendem os aliados do peemedebista. "Não daremos trégua
aos que temem que Cunha revele o que sabe", promete. "É uma data que
tem tudo para não dar certo, seja pela proximidade da eleição, seja por
ser uma segunda", critica o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ).
por Estadão Conteúdo
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