Comissão técnica do Tesouro Nacional irá ao Rio para ajudar em crise financeira
Palácio Guanabara, sede do governo do Rio | Foto: Halley Oliveira/ CC
Com as finanças em situação de calamidade, o Estado do Rio de
Janeiro receberá uma missão técnica do Tesouro Nacional para desenhar
uma estratégia de saída da crise e evitar o colapso das contas
estaduais. O acerto foi fechado pela secretária do Tesouro, Ana Paula
Vescovi, e o governo estadual, segundo o secretário estadual de Fazenda,
Gustavo Barbosa. Essa é mais uma tentativa de evitar o agravamento do
quadro fiscal e a necessidade de novo socorro da União, que poderia
abrir mais um flanco de insatisfação entre os outros governadores que
passam também por dificuldades financeiras e reivindicam mais
recursos. Os técnicos do Tesouro vão se debruçar sobre os dados do
Estado e buscar alternativas para aumentar as receitas, que deem fôlego
de curto e médio prazos. Na prática, esse monitoramento in loco
significa uma ingerência mais forte do governo federal, como funcionam
as missões do Fundo Monetário Internacional (FMI) nos países que pedem
socorro ao organismo multilateral e são obrigados a desenhar um plano de
ajuste. O programa de trabalho da missão ainda não foi definido e
Barbosa prefere não adiantar se o Rio precisará ou não de nova injeção
de recursos federais para sobreviver. "Não posso falar que não estou
esperando mais dinheiro do governo federal", disse. A União já repassou
R$ 2,9 bilhões ao Estado para garantir a segurança durante os Jogos
Olímpicos. Nos bastidores, o discurso do governo fluminense tem sido ou
aporte, ou intervenção federal, diante da situação catastrófica das
contas. A possibilidade de intervenção sempre foi colocada na mesa pelo
Estado e nunca foi totalmente descartada. O déficit estadual previsto
para este ano - já minimizado pelo aporte da União - está estimado em R$
16 bilhões. O Palácio do Planalto monitora o quadro do Rio, mas a
equipe econômica já avisou que não tem mais dinheiro para repassar. Para
os analistas, uma nova ajuda poderá abrir uma crise federativa,
ampliando os riscos fiscais em 2016 e 2017. A situação é tão delicada
que a Secretaria de Fazenda do Rio tem feito a gestão do dinheiro
disponível na "boca do caixa". "Estamos trabalhando com o caixa diário.
Infelizmente, é a pior situação para um gestor financeiro, mas é a
realidade. É atrasar pagamento de fornecedor, que é o que vem
ocorrendo", disse Barbosa. A missão do Tesouro não tem ainda data para
desembarcar no Rio - os técnicos federais estão em greve por questões
salariais - nem prazo de conclusão do trabalho. Uma das esperanças do
Rio para melhorar a situação no curto prazo é obter receitas
extraordinárias com a venda de ativos. A maior aposta é a concessão da
operação de distribuição da Companhia Estadual de Águas e Esgotos
(Cedae). O governo estadual já enviou carta ao Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pedindo a inclusão da empresa
no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), mas ainda há
indefinição sobre como - e se - a desestatização será levada adiante.
Embora o governador em exercício Francisco Dornelles seja defensor da
medida, o governador licenciado Luiz Fernando Pezão é contra. "Não vai
se privatizar não. O governador Pezão é arcaico e contra, e ele está
voltando. Isso não vai para frente", disparou o presidente da Assembleia
Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, colega de partido de Pezão.
Procurado, o governador licenciado preferiu não se pronunciar sobre as
críticas. A assessoria do governo do Rio, por sua vez, informou que os
estudos estão em andamento, e a intenção do Estado "é analisar várias
propostas para que esse objetivo seja atingido".
por Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes | Estadão Conteúdo
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