Odebrecht adquiriu banco para propina, diz delator
Foto: Germano Lüders / EXAME.com
Um dos executivos apontados como operadores de offshores do chamado
"departamento de propina" da Odebrecht disse em depoimento à
força-tarefa da Lava Jato que a empreiteira controlou 42 contas
offshores no exterior, sendo que a maior parte delas foi criada após
aquisição da filial de um banco, o Meinl Bank Antigua, no fim de
2010. Vinícius Veiga Borin citou em delação premiada transferências
"suspeitas" das contas associadas à Odebrecht que somam ao menos US$ 132
milhões. O delator é o primeiro a falar em detalhes sobre as transações
internacionais do grupo por meio de offshores. Borin trabalhou em São
Paulo na área comercial do Antigua Overseas Bank (AOB), entre 2006 e
2010. Ele e outros ex-executivos do AOB se associaram a Fernando
Migliaccio e Luiz Eduardo Soares, então executivos do Departamento de
Operações Estruturadas - nome oficial da central de propinas da
empreiteira, segundo a Lava Jato - da Odebrecht para adquirir a filial
desativada do Meinl Bank, de Viena, em Antígua, um paraíso fiscal no
Caribe. A aquisição envolveu ainda Olívio Rodrigues Júnior, responsável
por intermediar a abertura das contas para a empreiteira no AOB. A
participação de 51% da filial da instituição financeira em Antígua foi
adquirida, segundo o relato, por US$ 3 milhões mais quatro parcelas
anuais de US$ 246 mil. Ao final da negociação, o grupo passou a ter 67%
do Meinl Bank Antígua. A Procuradoria da República no Paraná pediu na
sexta-feira ao juiz federal Sérgio Moro que homologue a delação premiada
de Borin e de outros dois executivos do AOB: Luiz Augusto França e
Marcos Pereira de Sousa Bilinski. Somente Borin prestou depoimento. O
Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht foi alvo da 23.ª
etapa da Lava Jato, que levou à prisão do marqueteiro João Santana, sua
mulher e sócia, Mônica Moura, além do próprio Borin. Foi a partir da
Operação Acarajé - assim batizada em referência a um dos nomes usados
nas planilhas da contabilidade paralela da Odebrecht para propinas - que
a força-tarefa da Lava Jato chegou ao núcleo dos pagamentos ilícitos da
empreiteira. As revelações foram feitas principalmente pela funcionária
Maria Lúcia Guimarães Tavares, a primeira do grupo empresarial a
colaborar com as investigações. Atualmente, executivos da Odebrecht e o
empreiteiro Marcelo Odebrecht negociam uma delação premiada com a Lava
Jato. Entre as contas offshores citadas por Borin estão a Klienfeld, a
Innovation e a Magna, que fizeram depósitos na conta offshore Shellbill
Finance, apontada como de propriedade de Santana, na Suíça, no valor de
US$ 16,6 milhões, segundo o delator. Borin afirmou que o banco AOB
começou a operar contas para a Odebrecht a partir de um pedido de Olívio
Rodrigues, que se disse representante da empreiteira e interessado em
abrir contas no banco para movimentar recursos referentes a obras no
exterior. Ele afirmou ainda que acredita que os recursos movimentados em
grande parte pelas contras associadas à Odebrecht "eram ilícitos" ou
não se referiam a pagamentos de fornecedores ou "relativos a obras da
companhia". A aquisição, segundo Borin, inicialmente envolveu também
Vanuê Faria, sobrinho do controlador do Grupo Petrópolis Valter Faria,
que, de acordo com o delator, teve cerca de US$ 50 milhões nas contas
que mantinha no AOB bloqueados com a liquidação do banco. Entre o fim de
2011 e 2012, Vanuê vendeu sua participação.Procurada pela reportagem, a
Odebrecht informou, por meio de sua assessoria, que não iria se
pronunciar sobre o depoimento. O advogado Fabio Tofic, que defende
Santana, informou que só vai se manifestar sobre o caso perante a
Justiça. As defesas de Olívio Rodrigues, de Valter Faria e Vanuê Faria
não foram localizadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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