Dilma defende consulta para que população decida se quer novas eleições
Brasília - A presidenta afastada Dilma Rousseff, em entrevista exclusiva
à TV Brasil, em parceria com a Rede Minas, gravada no último domingo
(5). A entrevista foi feita pelo jornalista Luis Nassif, a convite da
empresa
A presidenta afastada Dilma Rousseff defendeu hoje (9), em entrevista especial concedida à TV Brasil,
uma consulta popular caso o Senado não decida pelo seu impedimento. Ao
apresentador Luís Nassif, Dilma disse que é a população que tem que
dizer se quer a continuidade de seu governo ou a realização de novas
eleições. “O pacto que vinha desde a Constituição de 1988 foi rompido e
não acredito que se recomponha esse pacto dentro de gabinete. Acredito
que a população seja consultada”, disse.
Para ela, o país não
conseguirá superar a crise com o governo interino. Dilma acredita que o
povo não terá confiança no comando de Temer pelo fato de ele não ter
passado pelo crivo das urnas. “Como você acha que alguém vai acreditar
que os contratos serão mantidos se o maior contrato do país, que são as
eleições, foi rompido?", indagou. “Não acho possível fazer pacto nenhum
com o governo Temer em exercício”, completou.
Dilma criticou uma
vez mais a admissibilidade do processo de afastamento usando como o
argumento o fato de que, embora a Constituição preveja o impeachment,
ela também estipula que é preciso haver crime para que se categorize o
impedimento. “Não é possível dar um jeitinho e forçar um pouquinho e
tornar esse artigo elástico e qualificar como crime aquilo que não é
crime. Os presidentes que me antecederam fizeram mais decretos do que
eu. O senhor Fernando Henrique [Cardoso] fez entre 23 e 30 decretos do
mesmo tipo”, disse, referindo-se aos decretos de suplementação
orçamentária que embasaram o pedido de impeachment feito pelos advogados
Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Pascoal.
“Não é o meu
mandato, mas as consequências que tem sobre a democracia brasileira
tirar um mandato. Isso não afeta só a Presidência da República, afeta
todos os Poderes”, disse ela.
Dilma disse que reivindica voltar
ao posto por compreender que não cometeu crime. Ela criticou os que
defendem um semiparlamentarismo, ou eleição indireta, por considerar que
isso traria um grande risco ao país. A presidenta afastada defendeu que
haja uma reforma política que discuta o tema. "Não temos que acabar com
o presidencialismo, temos que criar as condições pela reforma
política".
Nesse contexto, ela defendeu novamente a consulta
popular. “Só a consulta popular para lavar e enxaguar essa lambança que
está sendo o governo Temer”. Segundo ela, nos momentos de crise pelo
qual o Brasil passou, na história da democracia recente, foi com o
presidencialismo que o país superou as crises. "Foi sempre através do
presidencialismo que o país conseguiu dar passos em direção à
modernidade e à inclusão".
Eduardo Cunha
Para
Dilma, no final do seu primeiro mandato, começou a se desenhar,
especialmente na Câmara dos Deputados, um movimento político “do centro
para a direita”, com o surgimento de pautas conservadoras, processo,
segundo ela, comandado pelo então líder do PMDB e hoje presidente
afastado da Casa, Eduardo Cunha (RJ). “Ele é o líder da direita no
centro. O processo culmina na eleição dele”, disse.
Com a
ascensão de Cunha à presidência da Câmara, a interlocução do governo com
o Casa ficou inviabilizada, de acordo com ela, porque o peemedebista
tem “pauta própria”. “O grande problema de compor com o Eduardo Cunha é
que ele tem pauta própria. No momento em que o centro passa ter pauta
própria, uma pauta conservadora, a negociação fica difícil”. Dilma
voltou a defender a tese de que o peemedebista acatou a denúncia dos
advogados contra ela em retaliação ao fato de o PT não ter se
comprometido a votar, no Conselho de Ética, contra a abertura do
processo de cassação do mandato de Cunha.
"Atribui-se a mim não
querer conversar com parlamentares. Agora, não tem negociação com certo
tipo de práticas. Quando começa o aumento da investigação que a
Procuradoria-Geral da República faz sobre ele [Cunha], qual a reação
dele? Ou você me dá três votos ou eu aceito a questão do impeachment. E a
imprensa relata. Trata-se de uma chantagem explícita.”
Política externa
A
presidenta afastada também criticou as ações tomadas pelo ministro das
Relações Exteriores, José Serra, em relação a alguns países vizinhos.
Ela defendeu a aproximação do Brasil com países da região e com a
África, iniciada no governo Lula e mantida na sua gestão. "Fomos capazes
de refazer nossas relações com a América Latina e com a África. Ter uma
visão de fechar embaixada é ter uma visão minúscula da política
externa".
Lava Jato
Perguntada sobre a
Operação Lava Jato e os casos de corrupção deflagrados no país
recentemente com a ação da Polícia Federal e do Ministério Público,
Dilma que disse que o grande problema da corrupção é o controle privado
que se faz das verbas do Estado. “Não se pode fazer a escandalização de
investigações sobre o crime de corrupção. O que tem que se fazer é, doa a
quem doer, investigar e punir. Quando for as empresas é aplicar multas.
Há uma hipocrisia imensa em relação a essa questão das investigações”.
Celso Kamura
Sobre
as denúncias de que teve despesas com cabeleireiro pagas com dinheiro
de propina, Dilma disse ter comprovantes de todas gastos que teve com o
cabeleireiro Celso Kamura e a cabeleireira particular que a acompanha
até hoje.
Dilma contou que conheceu Kamura após o fim do
tratamento a que se submeteu para combater um linfoma, em 2009, por meio
da empresa responsável por sua campanha à presidência. Kamura, segundo
ela, a ajudou na fase em que seus cabelos voltaram a crescer. Para ela,
esse tipo de acusação é uma tentativa intimidá-la. "Eles não vão me
calar porque vão falar do meu cabelo. A sorte é que tenho todos os
comprovantes do pagamento, de transporte dele [Kamura] e da minha
cabeleireira particular. Também disseram que comprei um teleprompter. Já
viu alguém ter um teleprompter pessoal? Para que eu quero um
teleprompter? Essa eu achei fantástica", ironizou, referindo-se ao
aparelho usado pelas TVs que mostra o texto a ser falado por
apresentadores de telejornais e programas jornalísticos.
Íntegra
O vídeo com a entrevista da presidenta Dilma Rousseff pode ser vista no seguinte link http://bit.ly/DilmaTVBr.
(Fonte: Agência Brasil)
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