'Polêmicos’, termos ‘gênero’ e ‘sexualidade’ são retirados do Plano de Educação
Foto: Max Haack / Ag. Haack / Bahia Notícias
O Plano de Educação passou cerca de cinco meses praticamente
sem ser citado no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA).
Porém, às vésperas de sua votação na Casa, levou a uma discussão de
horas entre os deputados por causa de duas palavras: “gênero” e
“sexualidade”. Os termos foram alvos de emendas que criticavam sua
adoção nos debates escolares (entenda aqui),
e artigos defendiam que eles poderiam trazer implicações negativas:
"não haveria mais banheiros públicos para homens separados dos banheiros
das mulheres; não se poderia mais comemorar o dia das mães e o dia dos
pais, etc. Na escola, as crianças seriam ensinadas sobre variadas
práticas sexuais a gosto dos educadores" – apesar de não haver nenhuma
indicação do tipo no projeto (leia mais aqui).
A possibilidade da retirada dos temas foi criticada por instituições
como as Defensorias Públicas da União e do Estado (DPU e DPE) e o
Ministério Público (leia aqui e aqui). Após uma manhã atribulada na AL-BA (veja aqui),
os deputados suspenderam a sessão ordinária e mantiveram a discussão
até cerca de 19h30 desta terça-feira (3). Além das duas emendas, outras
três foram apresentadas ao longo do dia. Após um acordo entre os
parlamentares, partes do texto foram modificadas, adotando períodos mais
genéricos como “estímulo à discussão sobre diversidade” e “combate à
intolerância” e “respeito aos direitos humanos”. Apesar de palavras como
“trabalho infantil” e “racismo” terem sido mantidas, as outras foram
resumidas como “demais formas de discriminação”. Segundo o líder do
governo, deputado Zé Neto (PT), para o Executivo era importante a
manutenção dos conteúdos contra a discriminação e a favor da
diversidade. “O texto apresentado mantém esses aspectos, que são o pano
de fundo necessário para que o conselho faça as orientações sobre os
temas. Claro que mudou a abordagem, mas no geral temos a garantia clara
de respeitar a diversidade, contra qualquer discriminação, e garantir a
formação dos professores sobre o tema”, alegou Zé Neto. “Esse é um
projeto importante, que aponta para uma evolução no processo de
educação. São apenas dois pontos de um projeto que tem mais de 300
formulações. Nesse momento, é preciso agir com serenidade, independente
de ser governo ou oposição. Hoje é claro que tem uma polêmica ou outra,
mas são contextos naturais e amanhã a gente vai aprovar um projeto que
vai melhorar a Educação”, justificou. Presidente da comissão da Mulher
na AL-BA, a deputada Fabíola Mansur (PSB) não concorda com a opção
apresentada. Para ela, os textos aprovados em consenso significam um
retrocesso no combate ao machismo e à homofobia. “Apareceram novas
emendas e isso gerou um desgaste. Eu votei em separado. A gente perdeu a
chance de visibilizar quem é invisível e fazer, de forma contundente,
um debate sobre a questão do gênero. É como se a gente achasse que tudo
isso do mundo real fosse sumir com a retirada das palavras”, lamentou.
Fabíola assumiu que houve avanços no Plano de Educação de uma forma
geral, mas reforçou que “a invisibilidade promove a intolerância”. “Foi
um consenso de maioria, foi uma pequena derrota. Nós tentamos o tempo
todo convencer a maioria dos deputados de que se tratava de um discurso
de cunho religioso e que somos um Estado laico. Mas enfim, a luta
continua. Pelo menos conseguimos que a questão da diversidade seja
tratada como temática nos currículos”, avaliou.
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