Vírus da zika chegou ao Brasil na Copa das Confederações de 2013, aponta estudo
A zika não chegou ao Brasil na Copa do Mundo de
2014, nem em uma competição de canoagem realizada no Rio de Janeiro em agosto
daquele ano, como se pensava. O vírus veio de avião e desembarcou em solo
brasileiro em algum momento entre maio e dezembro de 2013 - possivelmente
durante a Copa das Confederações -, segundo um novo estudo publicado nesta
quinta-feira (24) na revista Science. Para chegar a essa conclusão, um
grupo de cientistas do Brasil, dos Estados Unidos e da Inglaterra comparou sete
sequenciamentos do genoma do vírus circulante no Brasil, a partir de amostras
de diferentes perfis. A comunidade científica internacional organizou uma
força-tarefa para obter o maior número possível de sequenciamentos do genoma
vírus zika a partir de amostras variadas. A nova pesquisa é o primeiro
resultado desse esforço coletivo global. O grupo, liderado pelo
virologista Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas, analisou
amostras coletadas, em diferentes Estados, de pacientes com diferentes quadros
clínicos de zika: quatro pacientes que foram infectados sem maiores
consequências, um paciente que recebeu sangue contaminado em uma transfusão, um
caso de morte de um paciente com lupus e um bebê que nasceu com microcefalia e
malformações congênitas. De acordo com Vasconcelos, foi encontrada
pouquíssima variabilidade genética entre essas várias cepas. "Isso indica
que o zika foi trazido ao Brasil em uma única leva. É fortemente provável que o
vírus tenha chegado ao Brasil durante a Copa das Confederações, que aconteceu
entre junho e julho de 2013. Esse período se encaixa no intervalo de confiança
determinado por nossos resultados, além de coincidir com o auge da epidemia na
Polinésia Francesa", explicou Vasconcelos. Os dados filogenéticos
obtidos pelo grupo de cientistas foram cruzados com dados epidemiológicos e com
informações de viagens a partir de países que tiveram surtos a partir de 2012.
Com isso, os pesquisadores constataram que a chegada do vírus coincidiu com um
aumento de mais de 50% nas viagens feitas dos focos de epidemias para o Brasil,
saltando de 3.775 por mês no começo de 2013 para 5.754 um ano
depois. "O aumento de viajantes daquela área foi muito considerável,
principalmente porque a Copa das Confederações teve a participação da seleção
do Taiti, que fica na Polinésia Francesa, que atraiu turistas daquela área. O
time jogou em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e em Recife. Coincidentemente,
foi em Recife que tivemos o maior número de casos de zika e também de
microcefalia", afirmou Vasconcelos. Embora tenha chegado ao Brasil
entre maio e dezembro de 2013, casos de zika só foram detectados no país a
partir de maio de 2015. Para Vasconcelos, a demora para a detecção
provavelmente foi decorente de diagnósticos errados. "Para entender
essa demora basta lembrar que a dengue a chikungunya têm um quadro clínico
muito parecido com o da zika e a maior parte dos pacientes não fazem exames.
Por mais de um ano, a zika deve ter avançado por vários estados enquanto era
diagnosticada clinicamente como dengue ou chikungunya", declarou.
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