Janot diz que posse de Lula não 'muda nada' e que MP tem 'couro grosso' por Jamil Chade | Estadão Conteúdo
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
garante que a posse de Luiz Inácio Lula da Silva como ministro "não muda
nada" para a Justiça e que o Ministério Público tem "couro
grosso". Em Berna para reuniões com o Ministério Público da Suíça, Janot
pode anunciar em seu retorno ao Brasil a abertura de inquérito contra Dilma
sobre a suspeita de agir para tentar obstruir os avanços das investigações da
Operação Lava Jato. Questionado se o foro privilegiado de Lula impediria
investigações contra o ex-presidente, Janot garantiu que não. "Vou pegar o
processo em Curitiba e transferir para o Supremo", disse. Janot também
deixou claro que não se sentiu intimidado. "O MP tem couro grosso",
insistiu. Mais cedo, ele já havia feito seu alerta ao afirmar que
"ninguém" é imune a investigações, ao ser questionado sobre a
possibilidade de pedir a abertura de inquérito contra a presidente Dilma
Rousseff. " Não podemos dizer o que vamos fazer. Mas o nosso trabalho é
republicano. Não há pessoa fora de investigação", disse a dois repórteres
brasileiros. O procurador já havia apontado nessa direção na quarta-feira
em Paris diante do conteúdo da delação premiada do senador Delcídio Amaral.
Agora, seus assessores indicam que a possibilidade foi reforçada essa com a
divulgação dos telefonemas trocados por ela com o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Questionado se ser presidente impediria um inquérito, ele
respondeu : "De jeito nenhum, de jeito nenhum". Diante da insistência
dos repórteres, ele disse: "não tem nada decidido". Mas voltou a
comentar sobre a imunidade de Dilma." Ninguém (está imune),
ninguém". Janot ainda respondeu aos comentários de Lula criticando,
em uma gravação telefônica, sua "gratidão". "Essa é a gratidão.
Essa é a gratidão dele por ele ser procurador", disse Lula ao advogado
Luiz Carlos Sigmaringa Seixas no dia 7 de março. Lula insistia que Janot tinha
recusado quatro pedidos de investigação de Aécio Neves. O procurador, na
Suíça, contra-atacou. "Os cargos públicos não são dados de presente. Eu
sou muito grato a minha família", insistiu. "Fiz concurso. Estudei
pra caramba. Tenho 32 anos de carreira", completou. Janot foi nomeado ao
cargo por Dilma Rousseff, em 2013, e reconduzido em 2015. Questionado se
estava surpreso com o teor das declarações de Lula, respondeu: "por isso
eu disse isso". Janot passou parte da madrugada num dos restaurantes
do hotel onde está hospedado na Suíça escutando aos trechos das gravações e as
reações das ruas. Ao lado de dois assessores, foi para o quarto perto da 1 da
manhã. "Dormi pouco", admitiu essa manhã. Questionado se havia
escutado às gravações das conversas de Lula, ele ironizou: "qual
delas?". "Eu nem consegui ler os jornais. É muita coisa",
disse. Procuradores da Lava Jato também pediram ao juiz federal Sérgio
Moro que encaminhe o caso ao procurador-geral em Brasília e consideraram que
existem indícios suficientes para um inquérito.
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