Cunha recebeu propina em 'horas de voo' de jatinho, afirma delator à PGR (por Estadão Conteúdo)
O lobista e operador de propinas Julio Gerin Camargo, um dos
delatores da Operação Lava Jato, afirmou à Procuradoria-Geral da
República que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu
R$ 300 mil em 'horas de voo' como parte de uma propina de R$ 1 milhão,
em 2014. Camargo entregou à PGR três notas fiscais relativas ao aluguel
de dois jatinhos que teriam sido usados pelo deputado ou por pessoas por
ele indicadas. Julio Camargo disse que a quantia de R$ 1 milhão seria
relativa à 'variação da taxa cambial' de uma propina de US$ 10 milhões
sobre contratos de construção de navios-sonda da Petrobras. O lobista
relatou à força-tarefa da Operação Lava Jato que recebeu Eduardo Cunha
em seu escritório, em São Paulo, para tratar do pagamento da
propina. Segundo ele, R$ 500 mil foram pagos pelo operador de propina do
PMDB, Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano. Os outros R$ 500 mil
ficaram por conta do próprio Julio Camargo. "Que, nessa reunião, a
pedido de Eduardo Cunha, acertou que pagaria R$ 200 mil em espécie; Que,
ainda nessa reunião, Eduardo Cunha disse o nome e as características da
pessoa que iria buscar o dinheiro com o declarante (Julio Camargo)",
relatou o lobista. Julio Camargo afirmou que o presidente da Câmara
"enviou um representante" a seu escritório, em São Paulo. O dinheiro
teria sido entregue 3 dias depois da reunião. "Não recorda do nome do
representante de Eduardo Cunha, mas era uma pessoa branca, no dia
portava boné, idade entre 40 ou 50 anos, forte, com características de
segurança". De acordo com o lobista, o dinheiro foi entregue ao
emissário de Eduardo Cunha em um envelope pardo. "A pessoa pegou o
envelope e colocou em uma mochila que portava". Em sua delação premiada,
Julio Camargo disse que R$ 300 mil seriam destinados ao fretamento dos
jatinhos para uso do deputado. Ele relatou que mandou que "a empresa
Global Táxi Aéreo faturasse voos solicitados por Eduardo Cunha no valor
de ate R$ 300 mil". O pagamento seria efetivado por meio de uma de suas
empresas, a Piemonte Empreendimentos. "Não recebia informações da Global
sobre quem seriam as pessoas que voaram por indicação de Eduardo Cunha;
que foi faturado aproximadamente R$ 120 mil ou R$ 130 mil". O delator
disse acreditar que "o crédito" de R$ 300 mil não foi totalmente
utilizado "em razão do desencadeamento da Operação Lava Jato,
considerando que o nome do declarante (Julio Camargo) já estava sendo
divulgado e o deputado Eduardo Cunha pode ter preferido, por cautela,
não fazer mais voos sob a responsabilidade do declarante". Além das
faturas da Global, Julio Camargo entregou à Procuradoria-Geral da
República recibos da empresa Reali Táxi Aéreo. "A empresa Global
possivelmente fez um subafretamento para a Reali Táxi Aéreo para poder
atender a solicitação de Eduardo Cunha".
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