Jornal divulga documentos em que CBF negocia vagas na seleção brasileira
Contratos secretos obtidos pelo jornal Estado de São Paulo revelam um verdadeiro esquema de leilão na convocação de jogadores para a Seleção Brasileira de Futebol. De acordo com reportagem publicada neste sábado (16), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) negocia os atletas convocados para o escrete canarinho através de critérios estabelecidos por parceiros comerciais (agentes, cartolas, testas de ferro e empresas em paraísos fiscais), fazendo com que qualquer substituição precisa ser realizada em um “mútuo acordo” e os envolvidos precisam ter o mesmo “valor de marketing” estabelecido por empresários e a entidade.
Ainda segundo a reportagem, a CBF mantém um contrato com a companhia ISE desde 2006 para a realização de amistosos do selecionado, onde a empresa negocia totalmente os adversários e locais para a realização dos jogos. Entretanto, a ISE funciona como uma empresa de fachada nas Ilhas Cayman e funciona como uma subsidiária do grupo Dallah Al Baraka, um dos maiores conglomerados do Oriente Médio. Renovado por dez anos em 2011, o acordo passou a ser sublicenciado para outras duas empresas, a Kentaro e a Pitch Internacional, e passou a ter em suas minutas as menções que determinam quem será convocado para integrar a equipe nacional, obrigando que apenas os principais jogadores da equipe sejam utilizados nos amigáveis internacionais. “A CBF garantirá e assegurará que os jogadores do Time A que estão jogando nas competições oficiais participarão em qualquer e toda partida. Se acaso os jogadores de qualquer partida não são os do Time A, a taxa de comparecimento prevista nesse acordo será reduzida em 50%”, diz o documento. Para deixar claro quem seriam os jogadores do Time A, a ISE exemplifica nesta renovação que o caso acontecido nos jogos contra Gabão e Egito – onde o treinador Mano Menezes não utilizou os atletas Neymar, Ganso, Lucas, Marcelo, Kaká e Leandro Damião – é uma situação clara de redução dos pagamentos para a realização dos amistosos. Outra clausula do acordo (que vai até o ano de 2022) também prevê que os períodos de preparação para as duas próximas Copas do Mundo também serão de exploração exclusiva da ISE, que pede por confidencialidade em todo o processo.
Outros documentos obtidos pelo Estadão também revelam uma verdadeira guerra interna entre os cartolas da CBF. Antes da sua saída, o ex-presidente Ricardo Teixeira já passava o controle para os cartolas José Maria Marín e Marco Polo Del Nero. Entretanto, e-mails conseguidos pelo jornal mostram que tanto Marin quanto Del Nero negociavam um novo contrato com a Kentaro, influenciados por sócios do Grupo Figer que se aproveitavam da renúncia de Teixeira para fazer parte do processo. Porém, uma manobra do ex-dirigente fez com que o seu esquema fosse preservado. Procurado pela reportagem, Marco Polo Del Nero defendeu o contrato feito por Teixeira e justificou que o processo aconteceu em uma época onde a CBF corria risco de ficar no vermelho quando realizava amistosos em território nacional. “O contrato, na medida do possível, a gente faz para cumprir. Nós chegamos já tinha esse contrato, temos que cumprir. Porque quando a gente jogava aqui no Brasil não chegava a tirar esse valor (1,5 milhão de dólares). Se analisar, hoje o contrato é bom”.
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