'É um trator melhorado', diz dono de calhambeque fabricado em 1929

Pouco antes de entrar na pista, o construtor Johnny Walker, de 53 anos, checa o motor, o óleo, e o nível de água do carro. A revisão seria considerada de praxe, não fosse o veículo em questão ser um Ford de 1929, preparado para encarar pelo terceiro ano consecutivo uma corrida de automóveis. “Ele aguenta tudo e anda muito bem. É um trator melhorado”, afirma o dono.
O carro é um dos 45 competidores que participam da 5ª edição da corrida Pé na Tábua, que termina neste domingo (3), em Franca (SP), e conta apenas com automóveis “pré-guerra” – fabricados antes de 1936 e conhecidos popularmente como “calhambeques”. a mesma preparação que entrar numa estrada, o que faço com frequência. Não é porque ele tem 86 anos que o deixo parado. É para andar, é para usar”, diz Walker.
Para ele, que também participa de exposições e encontros de carros antigos, deixar o veículo parado representa o verdadeiro perigo, uma vez que os fluídos do motor podem envelhecer e prejudicar o desempenho do carro. “Ele foi feito para aguentar o tranco. E já esteve várias vezes em Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador. Além de todo o interior de São Paulo. Não tenho ideia de quantos quilômetros ele rodou, só sei que foi muito”, ressalta orgulhoso o construtor.
Walker, que mora em Campinas (SP) e sofreu um pequeno atraso em sua viagem até Franca devido a um pneu furado, afirma que confia cegamente no calhambeque, mas confessa que tem uma “carta na manga”: “Como último recurso, a gente sempre tem o número de um guincho”, admite.
Paixão
Apaixonado por carros antigos desde criança, Walker lembra que passou muitos anos querendo comprar um modelo Ford A Roadster até achar exatamente o que queria, durante um encontro de automóveis antigos. Mesmo assim, mais quatro anos se passaram até que pudesse chamar o carro de “seu”. “Sabia que era o que queria quando o vi. Mas fui conseguir o carro só mais tarde, depois do proprietário original morrer. Quando saiu o inventário, negociei com a viúva. Foi meu presente de natal”, lembrou.

Raridade de R$ 100 mil
Para não descaracterizar o modelo, Walker mantém todas as partes e peças originais. O exemplar possuiu, inclusive, uma placa preta, que funciona como certificado de originalidade. Apenas o sistema de freio foi substituído, por de um Ford 1938, e o motor passou de 6v para 12v. “Mas o resto é inteirinho original, inclusive a pintura e os pneus”, afirma. O veículo é avaliado em cerca de R$ 100 mil.

Entre as particularidades do carro, o construtor destaca a ignição que é feita por meio de um pedal, ao lado do freio e do acelerador, e não de um botão, como nos modelos atuais. “A gente coloca a chave, liga a torneirinha de gasolina, geralmente puxa o afogador se precisar, e pisamos no pedal de ignição”.

O veículo possui ainda duas alavanca atrás da direção, para regulagem do motor conforme a necessidade do trajeto. O Ford também não tem bomba de gasolina e o combustível é distribuído por gravidade. O cinto de segurança não é o de três pontos. “Não teria como colocar cinto num carro desses. Só se mudasse as características dele. Mas a placa preta garante que a gente não seja multado por isso”, explicou.

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