Número de cesarianas é ‘vergonhoso’, diz coordenadora de Centro de Parto Normal em SSA
A condição de país recordista em partos por cesarianas não traz nenhum orgulho às profissionais do Centro de Parto Normal Marieta de Souza Pereira, localizado no bairro de Pau da Lima, em Salvador. “Somos uma vergonha nacional”, critica a coordenadora do centro e enfermeira obstétrica, Suzana Montenegro, em entrevista ao Bahia Notícias. O Centro é pioneiro no estado em oferecer atendimento gratuito às mães que não querem aumentar as estatísticas alarmantes de partos cirúrgicos no país. No interior do estado, Jequié, sudoeste baiano, existe uma casa de parto em moldes parecidos, mas com estrutura menor em comparação com o da capital. Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendar cesariana em 15% dos casos, o Brasil realiza 52% deles através desse procedimento, segundo dados do Ministério da Saúde. Na rede privada, o índice aumenta para 83% e, em algumas unidades, a marca ultrapassa 90%. Inaugurado em agosto de 2001, o centro em Pau da Lima chega a realizar até 60 partos por mês. A expectativa é atingir 150 mensais quando estiver na capacidade máxima. O centro também é equipado com cinco leitos PPP [pré-parto, parto e pós-parto] e dá suporte e acompanhamento para gestantes de diversos lugares, até estrangeiros. “Já teve aqui mexicana, uruguaia, peruana”, relata. Para fazer do parto normal uma exceção no país, Suzana diz que há todo um sistema que joga contra, desde os profissionais e planos de saúde até as próprias implicadas. “É uma coisa que se tornou normal e as mulheres têm sido induzidas a fazer cesariana”, critica a enfermeira. Para Suzana, o caso da gaúcha Adelir Lemos de Goes, obrigada pela Justiça a fazer cesariana contra a própria vontade no começo de abril, revela o estado da saúde dominante. “Nosso modelo é muito cruel e intervencionista contra as mulheres”, declarou. O centro em Salvador faz parte da Fundação Mansão do Caminho.
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