'Secretaria de Segurança Pública foi omissa', diz juiz sobre supostos crimes praticados por major

A nomeação do novo comandante da 67ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM),  de Feira de Santana, major Florisvaldo Ribeiro, tem gerado polêmica, devido às denúncias de que ele teria se envolvido com grupos de extermínio e em abusos praticados por policiais da corporação, quando esteve à frente da 6ª CIPM da cidade de Rio Real, conforme matérias publicadas no jornal Correio 24h em novembro de 2013 e nesta sexta-feira (21).
 
A respeito das acusações atribuídas ao major Ribeiro, o juiz titular da Comarca de Rio Real, Josemar Dias, afirmou em entrevista ao repórter Luís Santos,  programa Linha Direta com o Povo, na manhã de hoje (21), que ao longo dos últimos anos ele tomou conhecimento de uma série de denúncias da população sobre tais abusos e que a Secretaria de Segurança Pública foi omissa sobre o caso. “Desde 2009, nós estávamos mandando ofícios à Secretaria e também ao Ministério Público relatando essas acusações para que fossem tomadas as providências. Lamentavelmente a Secretaria de Segurança Pública foi omissa, porque não tomou providências antes, e demorou até hoje para tomar uma providência mais contundente”, afirmou. 
 
De acordo com ele, ao longo de 2013, houve um aumento significativo de homicídios praticados por um suposto carro preto e com armas de grosso calibre, na cidade, que eram atribuídos a policiais militares que andavam à paisana, denominados P2. “Com o andamento do ano, essas acusações começaram a envolver a pessoa do então comandante, que estaria autorizando esse comportamento dos policiais. As pessoas em audiências relatavam as torturas sofridas e começaram a chegar documentos escritos relatando outras torturas”, disse. 
 
Ainda segundo ele, “houve uma mudança de delegado em março de 2013. O delegado que estava saiu e antes de ele sair encaminhou uma série de inquéritos policiais para o Ministério Público. E nesses inquéritos constavam declarações de pessoas, que relatavam envolvimento do comandante nestes atos. Então o que existe até agora são as declarações das supostas vítimas, nos inquéritos policiais realizados pelo então delegado, que em uma das reportagens, inclusive, fala que saiu daqui (de Rio Real) porque ia morrer”, contou o juiz.
osemar Dias informou ainda que em outubro do ano passado houve um incidente envolvendo uma pessoa da comunidade, que relatou que foi torturada dentro do espaço da polícia militar e que o comandante da polícia estava presente e não fez nada para impedir.  “Houve a notícia do espancamento dessa pessoa, na suposta presença do comandante e também na presença do presidente da Câmara, porque essa pessoa tinha um parentesco com ele, que foi avisado da prisão e foi até o local. Ao chegar lá constatou o fato: a presença do comandante e a tortura praticada”. 
 
“Quando nós percebemos que as agressões estavam sendo cometidas e que as pessoas não estavam se importando com a presença de testemunhas, inclusive autoridades, nós chegamos à conclusão de que o rumo que as coisas estavam tomando era muito sério e quem iria sofrer mais era a população mais carente. Então, eu, o presidente da Câmara e o prefeito municipal nos reunimos e fizemos um ofício ao Ministério Público relatando os problemas, apontando a suposta participação do comandante da Polícia Militar e requerendo providências imediatas”, continuou.
 
Ameaças
 
Questionado se em algum momento ele sofreu ameaças, o juiz declarou que recebeu ligações em números restritos,  e teve o sítio do sogro dele visitado e vigiado por algumas horas pelo mesmo carro preto, que supostamente estava praticando homicídios.
 
“Efetivamente eu fiquei com receio sim, e em matéria de violência a gente não tem uma segunda chance. Mas o Tribunal de Justiça deu um apoio significativo, investigações foram feitas. O corregedor da polícia veio até o local, ouviu a população, descobriu coisas que nem eu mesmo sabia, por exemplo, que alguns policiais estavam estorquindo comerciantes, cobrando valores semanalmente para dar uma suposta proteção, e a polícia militar levou de outubro, novembro até hoje e até agora não divulgou nenhuma conclusão da sua inspeção no local. Embora, algumas pessoas me comentem que a conclusão vai ser pela absolvição do comandante”, avaliou.
 
Ele acrescentou ainda que até o momento, a cidade possui 120 inquéritos policiais aguardando manifestação do Ministério Público, porque a cidade não tem promotor titular, e também o MP não vem conseguindo dar o andamento devido a essas acusações. 
 
Morte de um advogado
 
Sobre a morte do advogado Jose Urbano Junior no dia 10 de novembro de 2013, o juiz acredita que pode haver relação entre o crime e as investigações. “O advogado José Urbano foi espancado dentro da delegacia por policiais militares em janeiro de 2012, e em junho de 2012 ele relatou novamente agressões por policiais militares. Em 8 de novembro de 2012, o advogado esteve na delegacia e disse que tinha conseguido reunir provas contra os PMs que agiam na cidade. Isto foi numa quinta-feira, no sábado ele foi assassinado. As câmeras de vídeo da cidade, que fazem o monitoramento, estavam sem funcionar neste dia e não captaram imagens do assassino. Lamentavelmente, esse inquérito, desde 2012, continua sem conclusão”, pontuou.
 
Sobre as declarações do coronel Adelmário Xavier, comandante do Policiamento Regional Leste (CPRL), e que vai liderar o major Ribeiro no município, o juiz afirmou que achou estranha a afirmação dele, de que o major seria inocente. “Não há como dizer que o major é inocente porque os processos judiciais nem começaram. O que o coronel deve estar dizendo é a respeito da investigação feita pela própria polícia, e eu estou achando estranho o comentário dele porque o relatório ainda não foi divulgado. Não sei como ele pode falar de um relatório que ainda não foi divulgado”, finalizou o juiz. 

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