Bahia, Rio e São Paulo lideram os casos de linchamento no Brasil em 26 anos

                                               Figura Ilustrativa
Depois da notícia de que um adolescente, acusado de roubo, foi preso ao poste com uma trava de bicicleta, os casos de linchamento e de grupos que se autoproclamam “justiceiros” ganharam espaço na imprensa e nas redes sociais. O assunto provocou repercussão. Os críticos à violência classificaram a situação de “volta à Idade Média” enquanto que parte da população respondeu com o discurso: “adote um bandido”. Apesar dos ânimos exaltados, o fenômeno não é novo. O linchamento é alvo de um estudo da Universidade de São Paulo que mostra, ao contrário do que parece, que este tipo de violência vem diminuindo de 1980 para cá.                                                                                         O levantamento, feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP, revela que São Paulo (580 linchamentos), Rio de Janeiro (204) e Bahia (180) são os estados onde mais aconteceram casos desses. Mas, nos últimos anos, os registros têm diminuído na maioria dos estados. Em São Paulo, por exemplo, em 1994, foram 88 casos, que caíram para 40 em 2000 e apenas dez em 2010. O cenário também é de queda no Rio de Janeiro. O Estado registrou 20 linchamentos em 1993, mas o número baixou para dez em 2002 e apenas um em 2010.

Para pesquisadora Ariadne Lima Natal, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, que estudou apenas os casos de São Paulo, os dados apresentaram queda depois que o Estado e seus serviços começaram a aparecer nos locais onde aconteciam esses atos. “Pode ser apontada como uma hipótese explicativa para a queda dos linchamentos a partir dos anos 2000”, sugere na dissertação 30 anos de Linchamento na Região Metropolitana de São Paulo 1980-2009.
Mas sociólogo Michel Misse, que dirige o Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresenta outro fator para explicar alguns picos de registro de linchamento em determinas épocas da história. “Enquanto a mídia falar disso, vão acontecer mais casos. Há uma relação entre mídia e eventos. Quando você noticia suicídio, principalmente aqueles que acontecem de forma bastante escandalosa, acontecem vários suicídios na sequência. Isso é comprovado. A mídia não compreende isso. Ninguém está contra a liberdade de expressão, mas existe uma interação entre mídias e sociedade”, argumenta.
Se a população tem recorrido menos às próprias mãos para fazer justiça, os motivos para que isso ainda continue acontecendo são, na maioria das vezes, os mesmos de 30 anos atrás. Desde a década de 1980, 25% dos casos de linchamento em São Paulo foram por causa de roubo e/ou sequestro relâmpago. A segunda razão mais comum para este tipo de violência é o próprio homicídio, que representa 17% dos casos que aconteceram entre 1980 e 2009 no Estado. No Rio de Janeiro, a situação é parecida. 30% dos casos registrados aconteceram após populares flagrarem roubos ou sequestros.
Na opinião da doutora em estudos da segurança e professora do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Jaqueline de Oliveira Muniz, o fenômeno é uma reação ao medo da violência, quando este toma conta da população. “Esse fenômeno sempre ressurge diante de ondas de temor. Diante do medo, queremos uma solução imediata, e tendemos a abrir mão das nossas regras [leis]."
Apesar de ser motivado pelo medo, para Ariadne, o linchamento não pode ser entendido como uma ação irracional ou bárbara. “Os dados mostram que as vítimas de linchamento não são aleatórias, os alvos preferencias são os mesmos já acometidos pela violência policial e pelos homicídios. Os linchamentos dialogam com seu tempo, eles fazem parte de uma realidade e acionam um repertório que aponta quem são os extermináveis”, explica sobre o fato de criminosos de classe alta ser pouca ou nenhuma vez vítimas deste tipo de violência.
(Fonte Tribuna da Bahia)

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