João Paulo Cunha diz que mensalão 'é farsa teatral' e ataca Barbosa

Há quase três anos sem grandes intervenções no plenário da Câmara, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) deixou a reclusão nesta quarta-feira (11) para se defender da condenação no mensalão sustentando que o julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) foi uma "peça teatral de farsa".
O petista disparou ataques ao STF, em especial ao presidente da corte e relator do processo, Joaquim Barbosa, dizendo que ele é um juiz que trabalha com informação seletivas. Mais uma vez, ele criticou a imprensa, reiterou sua inocência e negou que pense em renunciar ao mandato se for pedida sua prisão.
"Eu sei o que fiz e o que não fiz. Eu nunca fiz nada de errado. E se tivesse que fazer, não faria aqui [na Câmara]",disse.
A fala foi interpretada por parte dos colegas como um grande ato de despedida. O petista apontou que precisava quebrar o "silencio obsequioso" para rebater as barbaridades e injustiças. "Sou mensaleiro de muitos anos. Passo por esse infortúnio desde 2005. Essa é uma prestação de contas aos meus 256 mil eleitores, aos senhores deputados e aos filiados do PT", disse.

E completou: "Fiz uma opção pelo silencio, ele acaba aproximando a gente da gente mesmo. O político tem facilidade para falar, mas pouca para se ouvir. Só percebi isso quando fui arrasado por esse processo", disse.
O deputado fez uma comparação de sua condenação à prisão à história do líder sul-africano Nelson Mandela, que lutou contra a discriminação racial e passou 27 anos na cadeia.
"Se o Mandela ficou 27 anos preso, longe de mim me comparar com o Mandela, eu suportarei também. Eu não quero é ficar sozinho lá [...] Quero que me mandem cartas", disse.
João Paulo Cunha foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão em regime inicialmente fechado pelos crimes de peculato (desvio de dinheiro público), corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Como ainda resta um recurso para ser analisado pelo Supremo, seu caso deve ser definido em 2014.
A maioria dos ministros do STF acolheu acusação da Procuradoria de que ele recebeu R$ 50 mil do esquema que desviou recursos públicos para abastecer a compra de apoio no Congresso durante o início do governo Lula.
Ex-presidente da Câmara na época do escândalo, em 2005, ele teria sido beneficiado pelo esquema para contratar uma das agências de Marcos Valério, operador do esquema, a SMP&B, para atuar na Câmara.
"Essa é uma luta que não vai terminar agora, com minha prisão do Zé (Dirceu) e do Genoino. Tem ingênuo do PT que diz que é bom acabar rápido com isso que a eleição está chegando. Ainda vou ficar muito tempo aqui com os companheiros", disparou.
Em mais uma ofensiva contra o resultado do julgamento, João Paulo lançou nesta quarta uma revista intitulada "Nada mais que a verdade". O documento passou a ser distribuído em um dos corredores da Câmara em um evento que contou com cerca de 30 deputados do PT. O texto, montando em forma de perguntas e resposta, traz documentos e nega a tese de que ele participou de um esquema de corrupção.
Segundo a revista, o petista manteve o mesmo sistema que era utilizado na Casa na gestão anterior de Aécio Neves (PSDB-MG), senador e presidente do PSDB. Ele negou que a referência seja uma tentativa de responsabilizar o tucano.
"O ministro Joaquim Barbosa transforma comissão legal da agência (remuneração oficial do mercado publicitário) em desvio de recurso", disse. "O juiz, na sua origem, é uma pessoa que guarda certo recato. Que tem neutralidade. Juiz não disputa opinião pública. Nós estamos vendo coisas diferentes. Estamos presenciando disputas que não são boas. A justiça tem que funcionar. Não estamos mais tendo a experiência de conhecer juízes que deveriam se comportar como juízes".
João Paulo ficou irritado ao ser questionado pela Folha sobre quem custeou a revista. Ele disse que foi ele quem pagou. Quando a reportagem perguntou se usou a cota parlamentar, o petista disse que a pergunta era de baixo nível e não tinha interesse.
(Fonte Folha de São Paulo)

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