Desvio de funções de PMs: Em áudio, subtenente diz ter alertado coronel da AL
Em uma conversa gravada no dia 8 de agosto deste ano, o subtenente Evaldo Silva e o sargento Santos – autores das acusações de desvio de função de PMs e tráfico de influência dentro da Assembleia Legislativa da Bahia – aparecem em uma suposta negociação para tentar resolver internamente os problemas que envolveriam a atuação dos agentes, que vieram à tona com denúncias na imprensa (ver aqui, aqui e aqui). No áudio, obtido com exclusividade pelo Bahia Notícias (confira na íntegra), o subtenente classifica como “imoral” o uso de policiais militares a serviço de deputados. A outra voz, segundo Evaldo, é a do chefe da Assistência Militar, coronel Yuri Ferreira, que é chamado na gravação de “comandante”. Parte da conversa está irreconhecível, mas é possível observar trechos claramente ligados à denúncia feita pelos policiais. Inicialmente, o subtenente garante que não tem envolvimento com “as coisas erradas” que acontecem dentro da AL-BA. O “comandante” responde: “Parte de quem? De mim?”. Novamente, Evaldo se defende, mas alega que o superior tem conhecimento das irregularidades denunciadas: “O senhor sabe, comandante. O senhor tem consciência do que tem de errado na Casa [AL-BA]”.
Na gravação, também é possível entender que Evaldo recebe “uma punição branca” por um descumprimento de ordem, mas o porquê não fica claro. O subtenente afirmou ao BN que o motivo seria o início da insatisfação devido ao desvio de função, esquema do qual teria se recusado a participar. Logo depois, o coronel relata que “não tem interesse nenhum” no que supostamente seria punir ou perseguir o policial, mas Evaldo declara o contrário: “Infelizmente é o que está parecendo”. O ponto mais enigmático da conversa, na avaliação do autor das acusações, é a suposta solução apontada pelo superior. “O que foi que eu falei na reunião de 40 pessoas? O que foi que eu lhe disse? Qual era a solução, lembra?”, pergunta. A resposta é enunciada pela mesma voz, porém só é possível entender a frase “coloca um policial militar”. Evaldo garante que a sugestão era ceder um PM para fazer a segurança particular do deputado estadual Capitão Tadeu (PSB). A resposta do subtenente é mais exaltada: “Nós não estamos precisando disso, porque a gente acha errado. Nós achamos isso imoral”. Por fim, o oficial questiona o motivo de os policiais insatisfeitos não formalizarem as acusações. “Por que você não denuncia?”, indagou. Com a negativa, a outra pergunta é por que “Tadeu não denuncia?”. Ao final da gravação, o subtenente explica que “não pode mandar o deputado fazer nada”.
Menos de um mês depois, o subtenente estampou os noticiários com a denúncia, que ganhou forte conotação política após a briga entre o presidente da Assembleia, Marcelo Nilo (PDT), e Capitão Tadeu, acusado pelo pedetista de ser aliado dos PMs. Evaldo alega que, na verdade, "o deputado é que é aliado da gente”, ao se referir aos policiais. Ele nega ter sido indicado pelo socialista. “Quem me trouxe para a Assembleia pela primeira vez foi a deputada Maria Luiza Laudano”, revelou ao BN. Sobre as fotos em que aparece ao lado de Tadeu em viagens, o subtenente diz que são reuniões para discutir “demandas dos policiais militares”, o que faria em dias de folga por ser coordenador do Observatório da Cidadania, entidade ligada à causa. As faltas apresentadas por Nilo são explicadas por Evaldo como "casos antigos" e fruto também de um problema com o antigo superior. O PM não negou que tenha engajamento político, como inclusive ter saído candidato a vereador, mas disse que o presidente da AL-BA “tenta tirar o foco da denúncia de desvio de funções”. Ele argumenta que não há irregularidade em ter engajamento político em prol da categoria. Conforme o subtenente, a “perseguição” do coronel Yuri teria começado com a indicação de Tadeu para o comitê governamental que discute a modernização da PM. “O coronel Yuri não queria, pois queria outro deputado [na comissão]. Yuri queria indicar o Yulo [deputado estadual Yulo Oiticica (PT)]”, inferiu. Nesta quinta-feira (26), por alegar “não ter mais confiança” no deputado Capitão Tadeu, Nilo o retirou do grupo. (ver aqui)
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