LULA, DILMA E OBAMA.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi sincero ao dizer que recusou o convite para o almoço com Barack Obama no Itamaraty a fim de não "atrapalhar" a presidente Dilma Rousseff. Outras versões, como a de não saber dividir holofotes, subestimam Lula, exatamente como acontecia quando ele estava no poder.
É um erro apostar numa ruptura entre Dilma e Lula. Os dois se falam com uma frequência maior do que se imagina. Ele avalia que precisa ter cuidado para não fazer intromissões indevidas. Ela tem usado a força de Lula como um escudo em situações em que não pode se expor, como na guerra com as centrais sindicais para aprovar o salário mínimo de R$ 545 e nas articulações no PT sobre reforma política e eleições municipais de 2012.
A inegável mudança sobre direitos humanos na política externa é um detalhe que não afetará o projeto prioritário dos dois: Lula e Dilma estarão juntos em 2014 para tentar continuar no poder.
Houve, porém, um motivo adicional para a ausência de Lula no almoço do Itamaraty. Ele gosta de Obama, mas deixou o poder contrariado com um gesto do presidente americano. No ano passado, Obama combinou com Lula que seria feita uma tentativa de acordo com o Irã a respeito do programa nuclear daquele país.
A articulação do Brasil e da Turquia teve estímulo do americano. Isso ficou claro numa carta que Obama enviou a Lula duas semanas antes da visita do brasileiro a Teerã, o que aconteceu em meados de maio de 2010.
Na carta, Obama dizia que o Irã criaria "confiança" na comunidade internacional caso aceitasse enviar 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido para a Turquia. Em troca, receberia 120 quilos de combustível nuclear.
Mas Obama puxou o tapete de Lula, pressionado pela secretária de Estado, Hillary Clinton.
Havia no Palácio do Planalto o desejo de adiar a substituição do presidente da Vale, Roger Agnelli. Dilma avaliava que poderia postergar uma briga que causaria desgaste logo no início do governo. Afinal, é uma intervenção política na maior empresa privada do país.
Mas o vazamento de uma reunião do ministro Guido Mantega (Fazenda) com o Bradesco dificultou a sobrevida de Agnelli.
É respeitável o argumento de que o governo não deve interferir na gestão das empresas privadas, ainda mais na Vale, que tem de levar em conta os altos e baixos do mercado global.
No entanto, todas as grandes empresas do país procuram o governo quando isso lhes interessa. No caso de uma companhia que explora recursos não renováveis, é legítimo que o governo manifeste interesse nos seus rumos. O problema é a dosagem da interferência.
[INFORMAÇÕES: FOLHA.COM]
É um erro apostar numa ruptura entre Dilma e Lula. Os dois se falam com uma frequência maior do que se imagina. Ele avalia que precisa ter cuidado para não fazer intromissões indevidas. Ela tem usado a força de Lula como um escudo em situações em que não pode se expor, como na guerra com as centrais sindicais para aprovar o salário mínimo de R$ 545 e nas articulações no PT sobre reforma política e eleições municipais de 2012.
A inegável mudança sobre direitos humanos na política externa é um detalhe que não afetará o projeto prioritário dos dois: Lula e Dilma estarão juntos em 2014 para tentar continuar no poder.
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Espinha de peixe Houve, porém, um motivo adicional para a ausência de Lula no almoço do Itamaraty. Ele gosta de Obama, mas deixou o poder contrariado com um gesto do presidente americano. No ano passado, Obama combinou com Lula que seria feita uma tentativa de acordo com o Irã a respeito do programa nuclear daquele país.
A articulação do Brasil e da Turquia teve estímulo do americano. Isso ficou claro numa carta que Obama enviou a Lula duas semanas antes da visita do brasileiro a Teerã, o que aconteceu em meados de maio de 2010.
Na carta, Obama dizia que o Irã criaria "confiança" na comunidade internacional caso aceitasse enviar 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido para a Turquia. Em troca, receberia 120 quilos de combustível nuclear.
Mas Obama puxou o tapete de Lula, pressionado pela secretária de Estado, Hillary Clinton.
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Fora da agenda Havia no Palácio do Planalto o desejo de adiar a substituição do presidente da Vale, Roger Agnelli. Dilma avaliava que poderia postergar uma briga que causaria desgaste logo no início do governo. Afinal, é uma intervenção política na maior empresa privada do país.
Mas o vazamento de uma reunião do ministro Guido Mantega (Fazenda) com o Bradesco dificultou a sobrevida de Agnelli.
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Pode ou não pode? É respeitável o argumento de que o governo não deve interferir na gestão das empresas privadas, ainda mais na Vale, que tem de levar em conta os altos e baixos do mercado global.
No entanto, todas as grandes empresas do país procuram o governo quando isso lhes interessa. No caso de uma companhia que explora recursos não renováveis, é legítimo que o governo manifeste interesse nos seus rumos. O problema é a dosagem da interferência.
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