Risco de derrota no STF dita mudança de estratégia de Temer
Advogados de Temer desistiram de tentar reverter decisão do
STFUeslei Marcelino/Reuters - 20.5.2017
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A mudança da estratégia jurídica
de Michel Temer começou a ser discutida no fim de semana, quando o presidente
percebeu que um julgamento desfavorável do pedido de suspender o inquérito no
STF (Supremo Tribunal Federal) poderia ser uma sentença de morte e decretar o
fim antecipado de seu governo.
Depois que as cúpulas do PSDB e
do DEM tomaram o veredicto do plenário do STF — antes marcado para esta
quarta-feira (24) — como parâmetro para a decisão de permanecer ou não na base
aliada, Temer viu que a tática até então estabelecida havia se tornado uma
armadilha.
Principal alvo das delações da
JBS, o presidente foi alertado de que havia riscos de sofrer uma derrota na
Corte e, sendo assim, toda a estratégia traçada poderia se transformar num
divisor de águas contra o governo. A avaliação feita no Palácio do Planalto foi
a de que, se o plenário referendasse o parecer do ministro Edson Fachin,
relator da Lava Jato no Supremo, mantendo a investigação contra Temer, a crise
aumentaria e a situação do presidente ficaria insustentável.
Com esse diagnóstico, o Planalto
recorreu aos serviços do perito Ricardo Molina, da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas), na tentativa de mostrar que a gravação feita pelo
empresário Joesley Batista, dono da JBS, continha edições, e, portanto, não
poderia ser usada como prova na investigação.
Foi, na prática, mais uma
estratégia para ganhar tempo e afastar ultimatos, deixando o inquérito correr
no seu curso natural e evitando o possível desembarque de aliados. Dessa forma,
quando a Polícia Federal entregar o seu laudo ao STF, o presidente já terá
apresentado sua defesa pública.
No Supremo, o recuo na defesa de
Temer foi visto com alívio. Para um ministro da Corte, da forma como as coisas
vinham sendo conduzidas, o STF estava praticamente fadado a definir a morte ou
a sobrevivência política do presidente, o que não é papel do tribunal. Sem o
peso dessa decisão nos ombros, ministros avaliavam ontem que a Corte vai
analisar a situação de Temer num cenário com menos pressão política.
Em conversas reservadas,
magistrados diziam que, se o plenário referendasse por maioria a decisão de
Fachin de abrir investigação contra Temer, o efeito para ele seria semelhante
ao do recebimento da denúncia. Argumentavam ainda que a batalha do presidente
sobre sua governabilidade deve ser travada no campo político e entre atores
econômicos, não entre juízes.
"Todos nós queremos a
verdade e a Justiça vai fazer o seu papel. Enquanto não tivermos a verdade, não
podemos parar o País, como deseja a oposição, que aposta no 'quanto pior,
melhor'", disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB-RR),
também investigado pela Lava Jato.
Nos bastidores, auxiliares de
Temer observam que, se o PSDB deixar a equipe, arrastará outros aliados.
Dirigentes tucanos, por sua vez, dizem estar atentos aos desdobramentos da
crise. Uma ala do partido afirma não querer ficar na Esplanada para o
"abraço de afogados".
Dúvidas
Na noite de domingo, ministros e
parlamentares discutiram com Temer, no Palácio da Alvorada, o que chamaram de
atitudes "suspeitas" de Fachin e do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot. Nas rodas de conversa, o comentário era o de que Janot pode sair
desmoralizado dessa investigação.
Duas questões chamaram a atenção:
a pressa do Ministério Público em fechar o acordo com a JBS e a diferença entre
as punições impostas aos irmãos Joesley e Wesley Batista e a outros delatores,
como os do grupo Odebrecht. Os donos da JBS não foram presos, nem obrigados a
usar tornozeleiras. Joesley chegou a ter, ainda, autorização para viajar a Nova
York.
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