Senado aprova projeto que tipifica os crimes de abuso de autoridade
Com 54 votos favoráveis e 19
contrários, o Senado aprovou, há pouco, o texto-base do substitutivo do senador
Roberto Requião ao Projeto de Lei 85/2017, que define os crimes de abuso de
autoridade. Com o resultado, o projeto segue agora para análise pela Câmara dos
Deputados. O texto foi aprovado por unanimidade hoje (26) pela manhã na
Comissão de Constituição e Justiça e seguiu para o plenário nesta tarde.
Polêmica
Durante a breve discussão e
plenário, vários senadores questionam trechos do projeto e se posicionam contra
a matéria. Foram apresentadas quatro emendas ao texto, mas todas foram
consideradas prejudicadas após a aprovação do texto.
“Eu quero me manifestar
claramente, enfaticamente, contrário a esse projeto, sobretudo neste momento da
história do Brasil. Claro que este país precisa de cinco séculos para acabar
com o abuso de autoridade, mas não para cercear o trabalho de juízes, do
Ministério Público, da polícia, o que tudo indica que é a finalidade neste
momento. É um equívoco aprovarmos esse projeto neste momento”, declarou o
senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
O substitutivo de Requião só
conseguiu consenso depois que senadores de vários partidos condicionaram o
apoio ao texto à aprovação de uma emenda do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG)
que alterou a redação do Artigo 1º do texto, que trata do chamado crime de
hermenêutica, que significa punir o agente por divergência na interpretação da
lei. Para parte dos senadores, a redação anterior do projeto abria brecha para
enquadrar juízes e promotores, por exemplo, no crime de hermenêutica. O tema
também foi alvo de críticas de procuradores integrantes da Operação Lava Jato
Para o senador Randolfe Rodrigues
(Rede-AP), as alterações acatadas por Requião na CCJ mais cedo representaram
avanços importantes no projeto. Entretanto, na opinião dele, “o projeto ainda
traz alguns dispositivos que trazem comprometimento à atuação, em especial, da
magistratura”.
“Embora tenha melhorado, e muito,
eu ainda considero que traz algumas distorções centrais. E eu lembro que
estamos votando o substitutivo do senador Requião. É melhor que o primeiro
texto? É, mas ainda traz graves ameaças ao funcionamento da magistratura e do Ministério
Público. E o que eu considero mais grave: ele é inoportuno, porque o momento
histórico que nós vivemos não impõe a necessidade desse debate neste instante”,
afirmou Randolfe.
Outros senadores, no entanto,
defendem o projeto e o acordo feito mais cedo em torno do texto aprovado na
comissão. Para o senador Jorge Viana (PT-AC), o debate em torno da Lei de Abuso
de Autoridade foi “manipulado”, para fazer a opinião pública crer que ela
ocorre em situação de enfrentamento contra a Lava Jato.
"Foi muito difícil chegar a
esse entendimento”, disse Viana. “Eu testemunhei o empenho nos últimos dias e
semanas. Ontem a noite até hoje de manhã, procurando falar com líderes, ouvir
membros do Ministério Público, do Judiciário, líderes desta Casa, para tentar
alcançar uma mediação. Muita gente teve que ceder em suas posições”, completou,
lembrando que a atual lei ainda em vigor foi feita durante o período da
ditadura militar. No mesmo tom, o
senador José Agripino Maia (DEM-RN), disse que o senador Requião produziu um
texto “que traduz equilíbrio”.
(Fonte: Agência Brasil)
Comentários