Na Marcha pela Ciência, pesquisadores pedem mais apoio para o setor no Brasil
Antonio Cruz/Agência Brasil |
Cientistas, professores,
pesquisadores e estudantes reuniram-se hoje (22) em vários pontos do mundo para
participar da Marcha pela Ciência. O objetivo é destacar a importância da
pesquisa científica para o mundo. O ato foi convocado em mais de 500 cidades no
mundo.
A marcha lembra ainda o Dia da
Terra, comemorado neste sábado. A inspiração para o ato veio dos Estados
Unidos, onde cientistas estão se articulado contra os cortes no orçamento da
área de pesquisa e o posicionamento do governo de Donald Trump em relação a
temas como o aquecimento global.
No Brasil, mais de 20 cidades
convocaram a marcha. Os participantes pediram mais recursos e apoio para a
pesquisa e a ciência. Os organizadores informaram que a marcha é apartidária e
pacífica.
São Paulo
Em São Paulo, apesar da chuva, os
manifestantes reuniram-se no Largo da Batata, zona oeste da capital. No local,
foram montadas tendas onde as pessoas podiam obter, por exemplo, informações
sobre a dengue. Também foi montado um pequeno palco para os discursos. O número
de manifestantes não foi informado.
O pesquisador Joaquim Adelino de
Azevedo Filho e presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do
Estado de São Paulo (APQC) disse que o ato é mundial e visa a demonstrar a
importância da ciência. "Há 40 anos, logo depois da 1ª Guerra Mundial, o
Brasil importava sementes de hortaliças e frutas. Com a guerra, isso ficou
inviável. O Brasil teve então que investir em pesquisas para produzir aquilo
que a população estava acostumada a comer", disse, acrescentando que os 19
institutos científicos do estão "há 20 anos sofrendo um desmonte".
A presidente da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, ressaltou que o
ato de é mundial e apartidário. "Ele está presente em mais de 60 países e
600 cidades e 25 delas no Brasil. Hoje é o dia do Planeta Terra. Está sendo uma
marcha pela ciência porque algumas pessoas passaram a questionar o valor da
ciência", explicou.
Helena Nader disse aind que a
ciência no país vive uma crise."A produção científica está indo muito bem,
com aumento do número de publicações e da qualidade medida pelo impacto. No
entanto, quando se olha o financiamento, ele está inversamente proporcional.
Com o contingenciamento, não temos como sobreviver. E isso não vem deste ano.
Vem de alguns anos", acrescentou.
Brasília
Em Brasília, os manifestantes
reuniram-se em frente ao Museu da República, na zona central da cidade.
Acompanhados por um caminhão de som e portando faixas, cartazes e balões eles
marcharam pela Esplanada dos Ministérios em direção ao Congresso Nacional. Lá,
espetaram os balões no gramado como forma de chamar a atenção dos
parlamentares.
A conselheira da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professora da Universidade de
Brasília (UnB) Laila Espíndola destacou a diminuição de recursos para o setor e
a fusão entre o antigo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a pasta
das Comunicações.“Já está começando a Escolha de Sofia. Estamos tendo que
escolher onde alocar recursos”, afirmou a professora, uma das organizadoras da
marcha no Distrito Federal.
No início do ano, o governo
federal contingenciou recursos de várias áreas por causa do ajuste fiscal.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, embaixo de
chuva, o ato ocorreu pela manhã em frente ao Museu Nacional, na zona norte da
cidade. Levando tesouras, os participantes protestaram contra o corte no
orçamento do ministério.
Akemi Nitahara/Agência Brasil No Rio de Janreiro, o ato ocorreu pela manhã em frente ao Museu Nacional, na zona norte da cidade |
A presidenta do sindicato dos
trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Justa Helena, lembra que, sem
investimento de grande porte, a pesquisa não avança. “Por exemplo, se não
tivesse tido pesquisa em relação à febre amarela, hoje a gente não poderia
produzir as vacinas para a febre amarela que estão salvando muitas vidas no
nosso país. É um processo lento, mas que precisa caminhar”.
O diretor do Instituto Oswaldo
Cruz, Wilson Savino, que compareceu ao evento representando a presidência da
Fiocruz, afirma que os cortes de verba têm afetado as pesquisas. “Vai ser um
atraso muito maior nosso em relação ao desenvolvimento da ciência no mundo como
um todo. É o que a gente pode chamar de tiro no pé, não investir em ciência e
tecnologia e em educação quando um país está em crise econômica.”
O reitor da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, destaca que a ausência de recursos
desestimula os jovens a ingressarem no mundo científico.
“Se não tem bolsas de iniciação
científica em quantidade suficiente, se os laboratórios estão desorganizados e
desconstruídos, se projetos de pesquisa têm que ser interrompidos por falta de
verba, é claro que isso é uma sinalização objetiva para a juventude: se afastem
da ciência”.
(Fonte: Agência Brasil)
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